Entidade afirma que vários feridos foram hospitalizados na ação no último sábado (25/11); Ministério da Saúde, dono do prédio, diz que já havia chegado a um acordo pacífico quando a PM interveio
Na noite do último sábado (25/11), a Polícia Militar descupou um prédio do Ministério da Saúde, na Avenida 9 de Julho, em São Paulo. Segundo a Frente de Luta pela Moradia (FLM), que ocupava o prédio em uma manifestação, a ação foi violenta e deixou diversos feridos. Enquanto isso, o ministério em si diz não ter acionado a PM, e que já havia chegado a uma solução pacífica com a Frente.
Mariana Ramilo, 42 anos, militante do FLM, contou que a ocupação tinha como objetivo denunciar que o espaço estava ocioso, sem cumprir função social. Ela descreve que o grupo chegou por volta das 20h ao local e cerca de 15 minutos após a ocupação, os policiais vieram. Ela conta que eles não informaram quem os acionou. Uma liderança do grupo tentou negociar com os agentes uma forma pacífica de desocupação, mas a PM agiu com balas de borracha e spray de pimenta contra os manifestantes.
“Nós ocupamos de forma pacífica. Tinham muitas mulheres, crianças e idosos. Uma pessoa da nossa coordenação negociou com a polícia e estávamos prontos para sair, retirando a barricada e nos afastando para liberar a entrada. A polícia não cumpriu o acordo de esperar as pessoas saírem e começou a expirar primeiro o gás de pimenta, depois a bomba de efeito moral e, em seguida, balas de borracha”, afirma Mariana.
Ela conta que muitos dos militantes foram agredidos pelos policiais e precisaram de atendimento médico. Em uma postagem divulgada no Instagram da FLM é possível ver uma criança ferida.
“O que nós vimos, foram pessoas machucadas, pessoas atingidas na cabeça. Temos notícia de que uma pessoa levou bala na cabeça e teve que fazer quatro pontos. Teve gente que levou tiro de borracha com criança no colo”, denuncia a militante.
O uso de força pela PM é questionado pela militante já que o grupo de cerca de 100 pessoas se preparava para sair. “Nós estávamos ali para fazer uma denúncia sobre esse prédio que está abandonado. Esse é o nosso papel enquanto movimento, não é fazer desordem”, pontua.
Ministério já havia negociado saída pacífica
Procurado pela Ponte, o Ministério da Saúde informou em nota que não chamou a Polícia Militar para atuar na desocupação e que não compactua das açòes da PM nem compactua de suas ações.
“O Ministério da Saúde, por meio da sua Superintendência em São Paulo, está em contato com as lideranças do movimento Frente de Luta por Moradia (FLM) desde o início da noite de sábado (25), quando foi informado da movimentação. No diálogo com as lideranças foi solicitada a desocupação do prédio, onde funciona parte da estrutura da superintendência que ainda não foi migrada para a nova sede na capital. O pedido foi atendido prontamente, sem resistência, e está prevista reunião com as lideranças do movimento nesta segunda-feira (27). Vale ressaltar que, em nenhum momento, o Ministério da Saúde acionou as forças policiais e que não pactua com a conduta aplicada contra mulheres e crianças que estavam no local. Foi solicitado, inclusive, que a ação ocorresse sem uso da violência, visto que já havia sido acordado a desocupação do prédio de forma pacífica.”
Outro lado
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre o caso. A SSP enviou uma primeira nota à Ponte às 12h56min. Às 16h38min, foi enviada uma segunda nota.
No texto, a SSP informou que foi acionada para atender uma ocorrência de invasão, sem detalhes sobre quem os acionou. E que uma negociação foi tentada, sem sucesso, o que fez com que equipes do Bope e da Força Tática agissem para retirada dos militantes.
A Polícia Militar esclarece que foi acionada por ligação ao número de emergência 190, por volta das às 21h deste sábado (25), para atender uma ocorrência de invasão de propriedade em um prédio da União, onde mais de 100 pessoas estavam presentes. No local, um dos três seguranças responsáveis pelo prédio alegou que havia sido agredido. Também foram constatados danos ao patrimônio público. A vítima, de 45 anos, foi conduzida para o 78º DP, onde o caso foi registrado como lesão corporal e alteração de limites (quem invade, com violência a pessoa com ou grave ameaça, ou mediante a concurso de mais duas ou mais pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório). Nenhum representante do Ministério da Saúde compareceu no local. A Polícia Militar tentou a negociação para desocupação, sem sucesso, e às 23h15 equipes do Baep e da Força Tática começaram a retirada dos integrantes da invasão no imóvel. Todos foram retirados do local e não houve informação de feridos.
Mariana diz que não houve qualquer agressão por parte dos manifestantes.
*Matéria atualizada às 18h do dia 26 de novembro.