Missa relembra Guilherme, morto pela polícia: ‘O que a gente quer? Justiça!’

    Ato é feito uma semana após a morte do adolescente, sequestrado na porta de casa e depois encontrado morto; PM suspeito de participação no crime está preso

    Familiares de Guilherme puxaram a caminhada rumo à missa | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    Balões brancos, camisetas com a foto de Guilherme Guedes e o silêncio. Assim caminharam familiares e amigos do adolescente, sequestrado e morto aos 15 anos no domingo passado, dia 14 de junho.

    Joyce da Silva, mãe de Guilherme, e a avó, dona Antônia Arcanjo, puxaram uma passeata em sua memória neste domingo (21/6) na Vila Clara, bairro na zona sul da cidade de São Paulo. Participaram da organização a Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio e o coletivo Atitude.

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    A vontade da família é fazer com que o rapaz não seja esquecido. Mais do que a memória de tudo que Guilherme representava, querem ver a justiça ser feita com os assassinos.

    Preparação para a caminhada e missa aconteceu na casa frente da casa de Guilherme | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    O PM Adriano Campos, dono de uma empresa irregular de segurança, está preso e é considerado pela Polícia Civil o principal suspeito do crime. A defesa do policial nega sua participação.

    Quem caminhava levava cartazes com a foto do garoto e frases, como “Justiça por Guilherme” e “Vidas negras importam”. Dona Antônia amarrou fitas pretas nos braços dos presentes. Era o recado visual do luto que sentem no peito e na alma.

    Joyce, mãe de Guilherme, puxou com a caminhada com a avó, dona Antônia (à esq.) | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    Desde o domingo passado, a família vive com medo. Os sentimentos vão além da profunda tristeza pela perda de Guilherme. Com a revolta da população, ao queimar ônibus para denunciar o assassinato, a PM aumentou suas rondas na região.

    Em vez de trazerem segurança aos parentes do jovem, geram a reação inversa. “Eles rondam a nossa casa, inclusive de madrugada”, diz uma familiar, pedindo anonimato com medo de sofrer retaliações.

    O trajeto começou na casa da família, passou pela Avenida Cupecê e parou no número 3.300, onde fica uma praça, conhecida como a antiga feira livre de Americanópolis. Ali, mais homenagens.

    Teve quem acendeu velas em memória de Guilherme. Outros preferiram cantar. Em determinado momento, uma tia e um tio do garoto discursaram. “Não vou falar que isso pode acontecer com um filho de vocês porque eu não quero isso. Queria que não tivesse acontecido com o Guilherme”, lamentou o homem.

    Reza feita durante a missa de sétimo dia | Foto: Arthur Stabile/Ponte

    Houve uma pregação, à pedido da família, de um pastor evangélico. Ele leu uma passagem do livro bíblico de Salmo. Em seguida, todos os presentes rezaram.

    A missa teve fim com os balões soltos ao vento. Dona Antônia puxou a iniciativa. Emocionada, beijou o balão e disse: “Esse aqui é da vó, Gui. Vai até você”.

    Por dois momentos os presentes cantaram a música “Espera eu Chegar”, do MC Kevin O Chris. “Vai na paz, irmão. Fica com Deus / Valeu menor, espera eu chegar”, diz trecho da letra.

    Um desses instantes foi na volta, quando estavam próximos da casa de Guilherme. Amigos começaram a cantar e, em seguida, se dirigiram à dona Joyce. Eles a abraçaram e seguiram cantando.

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