Luciano Meneses, 22 anos, e Bruno Rocha, 20, foram vistos sendo colocados, vivos, em carro da PM. Rocha foi achado morto; Meneses é procurado por seus familiares
A tensão dominava o Parque Bristol, distante 2,5 km do Zoológico de São Paulo, na zona sul da capital paulistana, quando o domingo, 19 de outubro, amanheceu. No fim da noite anterior, o soldado Edson Santos da Silva, de 30 anos, havia sido morto com um tiro na nuca e o policiamento foi reforçado na área.
Nas rodas de conversa dos moradores durante aquele domingo predominava o medo de uma retaliação por parte de colegas do soldado, considerado um policial correto durante sua atuação nas ruas do bairro.
O soldado Silva era integrante da Rocam (Rondas Ostensivas Com o Apoio de Motocicletas) e, na noite de 18 de outubro, patrulhava a rua José Pereira Cruz com outros dois PMs, também em suas motocicletas.
Ao perceber que os três PMs da Rocam iam pará-los para uma blitz, um grupo de homens correu. Um deles deixou uma mochila cair. Enquanto seus dois companheiros perseguiam o grupo, o soldado Silva parou para revistar a bolsa. Nesse momento um criminoso se aproximou do soldado, por trás, e atirou três vezes contra ele. Um o acertou na nuca. O PM havia encontrado droga e um telefone celular na bolsa abandonada. Socorrido pelos colegas, o soldado Silva morreu no hospital. Ele trabalhava na PM havia oito anos.
Logo que a morte do soldado Silva foi confirmada, PMs do 46º Batalhão (o mesmo do policial morto) assim como várias equipes da Rota, suposta tropa de elite da PM paulista, começaram operações em toda a região do Parque Bristol.
Em várias das operações da Polícia Militar de SP, de acordo com um documento entregue terça-feira (11/11) por moradores dos bairros Parque Bristol, Jardim São Savério, Jardim Celeste, Vila Cristina e Vila Paz ao secretário da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Fernando Grella Vieira, os policiais passaram a agir com truculência contra a população da região, o que permanece esta primeiras semanas de novembro.
As violações cometidas pelos PMs contra os moradores, de acordo com o relato ao secretário Fernando Grella, incluem agressões físicas, ameaças com arma de fogo, arrombamento de casas sem ordem da Justiça, destruição de móveis nas residências invadidas e até mesmo o desaparecimento forçado de um jovem e a morte de outro.
Morte e desaparecimento forçado
Luciano Santos Meneses, de 22 anos, e Bruno Lúcio da Rocha, 20 anos, sumiram entre a noite de sábado (18/10) e domingo (19/10). Ao menos três moradores do Parque Bristol relataram terem visto os dois jovens, vivos, sendo colocados em um carro da Rota.
[one_half last=”no”][alert type=”e.g. block, error, success, info” title=””]PMs ameaçam: “ninguém terá Natal ou Ano Novo”, relatam moradores. [/alert][/one_half]Rocha foi encontrado por parentes três dias após seu sumiço. Seu corpo estava no Instituto Médico Legal (IML) depois de ter sido levado por policiais militares, ferido a tiros, para o Hospital Artur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara, também na zona sul paulistana e perto do Parque Bristol.
Meneses ainda está desaparecido e o caso é investigado pelo 83º Distrito Policial (Parque Bristol) e pela delegacia especializada em desaparecimentos do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Não há nenhum indício de que os dois jovens tenham ligação com a morte do soldado Silva. Com medo de se tornarem alvos dos PMs, os moradores do Parque Bristol e bairros vizinhos se recusam a dar entrevista sobre os abusos cometidos pelos policiais na região.
No documento entregue ao secretário Fernando Grella, os moradores também relataram que os PMs responsáveis pelo patrulhamento da região têm os ameaçado dizendo que “ninguém terá Natal ou Ano Novo”.
Ao ser questionado pela reportagem sobre o que aconteceu com os dois jovens moradores do Parque Bristol, o secretário Grella Vieira respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que ao registrar o desaparecimento de Meneses, a irmã dele não fez qualquer menção sobre a possível participação de policiais no caso.
Sobre Rocha, o secretário informou que “não seria possível apurar se ele foi encontrado morto” porque a reportagem não havia fornecido a identificação completa do rapaz.
Ainda segundo Grella Vieira, “a Corregedoria da Polícia Militar não recebeu qualquer denúncia de envolvimento de policiais relacionada a Meneses”.
[…] A Corregedoria (órgão fiscalizador) da Polícia Militar de São Paulo passou a investigar nesta quinta (13/11) o assassinato de Bruno Lúcio da Rocha, de 20 anos, e o desaparecimento de Luciano Santos Meneses, 22 anos, entre a noite de 18 e 19 de outubro, na região do Parque Bristol, zona sul da cidade de São Paulo. […]