Ana Flores ensina voluntariamente técnicas de prevenção e combate a incêndio para evitar tragédia como a que aconteceu em maio deste ano no Paissandu
No último domingo (9/12), os moradores da Ocupação 9 de Julho, no Centro de São Paulo, receberam o treinamento de prevenção e combate a incêndio para evitar uma tragédia como a que aconteceu no edifício Wilton Paes de Almeida, no Paissandu, que desabou em razão de um incêndio de grandes proporções no dia 1º de maio, deixando 7 mortos e 171 famílias desalojadas.
O treinamento foi oferecido voluntariamente pela bombeiro civil Ana Flores, que passou a se engajar nessa causa justamente depois da tragédia no Paissandu. “Segurança e combate a incêndio precisa fazer parte da cultura das pessoas”, declarou a bombeiro.
Leia também
Ocupação Prestes Maia resistiu a incêndio com prevenção, organização e afeto
‘Sem prevenção, Prestes Maia seria uma nova Paissandu’, afirma bombeiro
Estudante de arquitetura no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Ana conta que foi levada a uma reunião pela sua professora, a doutora Débora Sanches, que é membro do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, também voluntariamente, que presta assessoria técnica aos movimentos de moradia do centro de São Paulo.
No curso oferecido na 9 de julho, onde vivem quase 500 pessoas de 162 famílias, Ana fez uma apresentação teórica sobre prevenção e combate, com exemplos de grandes incêndios em edificações do Brasil, como os edifícios Joelma, Andraus e a Boate Kiss, com imagens fortes e explicando os erros cometidos e as causas da tragédia, explicando como poderiam ter sido evitadas.
A bombeiro ainda usou como exemplo a bem-sucedida ação dos moradores da Prestes Maia no incêndio que aconteceu no sexto andar do Bloco A da ocupação, no último dia 21 de novembro, quando o fogo não se alastrou e não houve mortes.
“Quando eu cheguei lá na Prestes Maia no dia do incêndio, todo mundo veio me falar que fez exatamente como eu tinha falado e deu tudo certo: ligaram alarme, desligaram a energia, usaram os extintores, chamaram os bombeiros e saíram em ordem pelas escadas”, lembrou Ana.
“Seria bom que todas as ocupações fizessem esse treinamento”, indicou o líder da Prestes Maia, João Batista.
A reportagem da Ponte foi à Prestes Maia na ocasião e ouviu os moradores, que relataram os fatos contados pela Ana e ainda disseram ter seguido outras dicas que ela também passou na 9 de julho, como contou a merendeira Lucilene Aparecida França, que lembrou de molhar os panos que usou para cobrir suas crianças e escapar do incêndio.
Na explicação teórica, Ana deu dicas de sobre como identificar e evitar sobrecarga da rede elétrica, como fazer a manutenção de quadros de energia e até detalhes básicos como o de não acumular lixo e o de não vestir o botijão a gás com panos foram passados, sempre tirando as dúvidas que surgiram durante a apresentação. Casos curiosos e perigosos como o erro de prender o disjuntor que insiste em cair e até do uso de extintor para lavar corredor ou desentupir ralos foram exemplificados.
Já em relação a combate ao fogo e ações em caso de incêndio, ela destacou os procedimentos indicados para a respiração em eventual incêndio, o uso de tecidos molhados, a opção por agachar durante eventual fuga para evitar a fumaça acumulada nas partes mais altas, a evacuação rápida e em ordem, além do combate ao fogo com o extintor correto, de água ou pó. Depois da teoria, Ana levou os cerca de 50 participantes do treinamento para a área externa para o uso de extintores – a ocupação conta com 38 extintores espalhados por andares e galeria.
“É muito necessário! Vale para as pessoas terem o contato com o extintor, que muitas das pessoas nunca tinham tido, e a gente descobre coisas simples também. Eu mesmo pensava que ir para o banheiro, onde tem água, podia ser bom, mas ela mostrou que na Boate Kiss isso foi um problema e falou dos riscos da fumaça. Foi muito bom para todos os moradores”, elogiou Priscila Pâmela, coordenadora na Ocupação 9 de Julho.