Ouvidoria da Polícia quer afastamento dos PMs e diz que família contesta versão de que vítima teria participado de um roubo; outro jovem foi baleado na ação
Na manhã da quarta-feira (25/12), dia de Natal, a Polícia Militar baleou duas pessoas nas imediações da rua Alba, Jabaquara, que corta favela de mesmo nome, onde acontecia um baile funk. Kaio Rickson Ramos Alves, 18 anos, foi preso, Kauan Ferreira dos Santos, 19, ficou ferido e permanece internado no Hospital Municipal Doutor Arthur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara. O adolescente Cauã Alves de Almeida, 16 anos, que levou um tiro no rosto, chegou a ser hospitalizado, mas morreu nesta sexta-feira (27/12).
A PM alega que o trio tinha roubado um carro e tentava fazer outro assalto, quando receberam voz de prisão, mas conseguiram fugir. Os policiais então teriam iniciado uma perseguição que terminou na Rua Alba, quando, ainda de acordo com a versão oficial, dois suspeitos, sendo um deles Cauã, teriam atirado contra os policiais, obrigando o revide.
A versão oficial se aproxima, em alguns aspectos, com a do massacre de Paraisópolis, quando 9 pessoas morreram, no dia 1º/12, durante uma ação policial que supostamente foi motivada por uma perseguição de dois suspeitos que se esconderam no fluxo do Baile da DZ7, que acontecia no local. Os PMs que participaram da ação em Paraisópolis, também na zona sul de SP, alegam ter revidado disparos e afirmam, assim como no caso da Alba, que frequentadores do baile atiraram garrafas contra a tropa e as viaturas.
A Ouvidoria da Polícia de São Paulo recebeu a denúncia de possível excesso na ação e instaurou um procedimento pedindo que a Corregedoria da PM entre no caso. De acordo com o ouvidor Benedito Mariano, a família do adolescente, único morto na ação, questiona a versão da polícia. “A família alega que o adolescente não estava no carro que os PMs perseguiam. Solicitei que a Corregedoria da PM determine o afastamento dos policiais. A mãe do Cauã está muito abalada e virá aqui na Ouvidoria em janeiro”, declarou à Ponte.
Vídeos que circularam em grupos de Whatsapp mostram o desespero de alguns frequentadores do baile tentando ajudar uma das vítimas baleada e caída no meio da rua. Duas jovens amparam o rapaz que caminha com dificuldade e está todo ensanguentado. “Mataram o menino”, é possível ouvir durante uma das gravações.
Outros dois vídeos mostram a indignação da comunidade diante do episódio. Moradores da Alba tocaram fogo em containers de lixo no meio da via para protestar contra a ação policial.
Em nota, a PM e a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) sustentam a versão de que Kauan, Cauã e Kaio foram detidos após roubar um veículo e estavam tentando assaltar outro motorista, quando um PM a paisana identificou a ação, se identificou e um dos suspeitos teria então apontado a arma para ele. O policial então disparou contra o trio, que conseguiu fugir.
“Os suspeitos estavam em um veículo Tucson roubado, quando abordaram o motorista de um Honda Civic, na Avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira. Armados, os suspeitos exigiram que a vítima entregasse seus pertences”, diz trecho da nota.
E segue: “Na Rua Alba, os suspeitos desembarcaram. O adolescente e Kauan atiraram em direção à equipe, que revidou. Ambos foram atingidos e resgatados por frequentadores de um baile funk”.
Assim como no caso de Paraisópolis, a nota oficial afirma que um policial foi atingido por uma garrafa que teria sido lançada por frequentadores do baile. “A viatura da PM foi danificada, com vidro traseiro quebrado e lataria amassada”, diz nota.
Segundo SSP-SP, o trio foi reconhecido por foto e Kaio está preso. O caso foi registrado no 16º DP (Vila Clementino).
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