Jovem de 19 anos estava internado na UTI desde o dia 17 de março e foi submetido a várias intervenções, hemodiálise e respirava por aparelhos
Morreu na madrugada desta terça-feira (11/04), no HMA (Hospital Miguel Arraes), em Paulista, município no litoral norte de Pernambuco, Edvaldo da Silva Alves, de 19 anos. O jovem havia sido baleado por um policial militar durante uma manifestação contra a violência no município de Itambé, a 65 quilômetros de Paulista. Ferido na coxa, ele foi submetido a várias intervenções, a sessões de hemodiálise e passou a respirar com ajuda de aparelhos.
De acordo com boletim divulgado na manhã de ontem (11/04), o paciente apresentou uma piora clínica na tarde de segunda-feira (10/04) e faleceu à 0h14 desta terça-feira. O corpo está sendo encaminhado ao IML (Instituto de Medicina Legal). No boletim de saúde, a equipe médica atestava que Edvaldo, internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) desde o dia 17 de março, apresentava uma melhora lenta, mas progressiva, no quadro respiratório, e a cada dia precisava menos do suporte mecânico de respiração. No entanto, Edvaldo vinha apresentando febre, o que representava ainda um quadro não resolvido de infecção, e por isso continuava utilizando antibióticos.
Por meio de nota, o governo do estado lamentou a morte: “O governo do estado de Pernambuco lamenta profundamente o falecimento de Edvaldo da Silva Alves. O governo reafirma o seu firme compromisso de desautorizar e impedir qualquer abuso de força por parte das polícias do estado. Toda ocorrência será tratada com a firmeza e responsabilidade necessárias. A apuração do ocorrido está em andamento, estando os policiais envolvidos no caso sendo devidamente investigados. Por meio da Secretaria de Saúde do Estado, foi prestada toda assistência médica qualificada a Edvaldo desde o momento do seu atendimento. O Governo do Estado se solidariza com os familiares e os amigos de Edvaldo. E fará o que estiver ao seu alcance para que todo o episódio seja esclarecido e que a Justiça seja feita”.
Ainda na manhã desta terça-feira, durante solenidade de troca de comando de diretorias da Polícia Militar, o governador Paulo Câmara (PSB) falou sobre a morte do jovem. “Primeiro, a gente lamenta profundamente o falecimento desse jovem. Já determinei que a Procuradoria Geral do Estado busque meios jurídicos para o mínimo de reparação junto à família desse jovem. Ao mesmo tempo, já cobrei no âmbito da Polícia Militar e da Secretaria de Defesa Social que a apuração desse episódio seja concluída, para que a gente possa apurar o que realmente aconteceu e punir as falhas que ocorreram essa questão. A gente não pode admitir que casos como esse voltem a e repetir no estado de Pernambuco”, disse.
O caso
No dia 17 de março, Edvaldo participava de um protesto contra a insegurança em Itambé, na rodovia PE-75, quando foi atingido por um disparo efetuado após um PM fazer menção a quem levaria um tiro primeiro. Baleado, sangrando, foi arrastado por PMs, sendo agredido, jogado na caçamba de uma viatura e depois socorrido para o Hospital Miguel Arraes.
As cenas foram gravadas num vídeo disponibilizado pela internet, com um áudio em que moradores do município gritavam contra a ação da PM de Pernambuco num protesto pelo qual clamavam por policiamento e segurança contra assaltantes. Estudantes e outros moradores da área queimaram pneus e pedaços de madeira, interditando a PE-75 entre os municípios de Itambé e Goiana. PMs tentavam liberar a rodovia, sem sucesso, quando ocorreu o incidente.
A Secretaria de Defesa Social informou que instaurou um inquérito policial e um procedimento administrativo para apurar o disparo efetuado por um policial militar contra um manifestante durante um protesto por segurança realizado na sexta-feira passada, no distrito de Caricé, município de Itambé, na Mata Norte. Em nota, a pasta acrescentou que desde o dia da ocorrência o caso está sendo investigado pela Delegacia de Itambé.
“As ouvidas de testemunhas, tanto dos policiais militares quanto dos manifestantes que estavam no local, já foram iniciadas e continuarão até o esclarecimento dos fatos. É importante esclarecer que em casos de ação penal pública incondicionada, como o fato em Itambé, não é necessário prestar queixa na delegacia. O processo é aberto independentemente de representação. Mesmo assim, o Boletim de Ocorrência (BO) foi realizado e as investigações correm com celeridade. O Comando Geral da Polícia Militar abriu Inquérito Policial Militar para apurar a conduta dos servidores, que foram retirados das funções de policiamento ostensivo até a apuração completa dos fatos. A Corregedoria da SDS [Secretaria de Defesa Social] também está atuando no caso”, diz o documento.
Texto originalmente publicado no jornal Diário de Pernambuco