Dois homens morreram baleados em Osasco (SP), mas testemunhas asseguram que não houve confronto e que policial à paisana deu tiros pelas costas
Testemunhas da ação que terminou com dois homens mortos na tarde de domingo (23/2) em Osasco (Grande SP) asseguram que não houve confronto e que um policial à paisana teria os executado. A dupla agonizou na rua à espera do atendimento médico.
Quem estava no local conta que os dois haviam, de fato, roubado uma moto no farol que fica na esquina das avenidas Leonil Crê Bortolosso com a Benedito Alves Turíbio, no bairro Padroeira, limite de Osasco e Carapicuíba. Eles estariam com uma arma de brinquedo, segundo testemunhas.
O policial à paisana estava em um carro e, ao ver a cena, teria deixado os homens colocarem o capacete e andarem com a moto antes de agir. Quando eles estavam de costas, puxou sua arma e acertou as costas do motorista, fazendo os dois caírem do veículo.
“Não teve nenhuma troca de tiros, eles mentiram! O policial atirou neles, saiu do carro e deu mais tiro quando estava perto, coisa de um metro, no máximo dois”, revelou à Ponte uma testemunha da ação policial, pedindo anonimato com medo de sofrer represálias. Segundo ela, o print de um vídeo mostra o PM chutando um dos homens.
Vídeos obtidos pela reportagem através da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio mostram os instantes depois: os dois estão deitados no asfalto à espera o resgate, que não chega. O irmão de um dos jovens se desespera. “Meu irmão, meu irmão! Oh, Ni! Está me ouvindo?”, gritou, enquanto um PM tentava afastá-lo do rapaz ferido.
Os moradores relembram que os familiares de um dos baleados, que mora em rua próxima, se desesperaram ao verem ele agonizando no chão. “Um PM deu um empurrão na mãe dele para sair de perto. Negaram socorro”, comentou uma moradora.
A Ponte tentou contato com a família, que não estava na casa no momento em que a reportagem foi à comunidade na tarde desta terça-feira (25/2). Os moradores afirmaram que um dos jovens se chamava Ruan e o apelido do outro seria Ni, mas não souberam informar seus nomes completos. “Não eram aqui da rua, eram lá de cima”, comentou um rapaz que mora na comunidade.
Os relatos são de que o Samu chegou apenas entre 1h e 1h30 depois de que os dois estavam no chão. Ao chegar, ainda teria demorado mais 20 minutos até levá-los para o Hospital Municipal de Osasco. Lá, ambos morreram.
“Sabíamos que um já estava morto. Teve um hora que ele levantou a cabeça, o braço e desfaleceu. Não mexeu mais”, afirmou um morador à reportagem. “O povo do resgate ainda fez massagem cardíaca para dizer que tava tentando socorrer, mas ele já tava morto”.
As pessoas se revoltam com a falta de atendimento e cobraram os policiais, que revidaram com bombas de efeito moral, conforme registros. Uma delas explodiu ao lado da perda de um jovem de 17 anos, que segue ferido, conforme apresentou à Ponte na tarde desta terça-feira (25/2). O pé inchado e as marcas pretas denunciam a explosão que o atingiu.
Outra mulher relatou ter sido agredida com um mata-leão e socos dados por um PM. “Ele veio em mim, me pegou pelo pescoço e de um monte de murro”, disse. Segundo ela, o policial “parecia drogado, só queria me bater”.
A mulher levou dois pontos na testa pelas agressões do PM, mas não deixou que a marca fosse registrada por medo de sofrer represálias. “Moramos aqui, temo que venham atrás de mim”, explicou.
Na segunda-feira (24/2), a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, gerida pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB) explicou que um policial presenciou o assalto a moto de um casal e “interveio”. Sobre a ação contra os moradores, ela teria ocorrido porque “populares danificaram uma viatura, um semáforo e um radar”.
A Ponte questionou a SSP e a PM, comandada pelo coronel Marcelo Vieira Salles, sobre as denúncias das testemunhas de que o policial à paisana teria executado os homens, de que não houve confronto e da suposta agressão de um dos policiais ao homem caído, a uma moradora e aguarda resposta.
A reportagem também solicitou à Secretaria da Saúde de Osasco, administrada pelo secretário Fernando Machado Oliveira neste mandato do prefeito Rogério Lins (Podemos) informações sobre o horário do pedido de socorro, em quanto tempo os homens foram atendidos e se a espera entre 1h e 1h30 está dentro dos padrões e também espera um posicionamento.