A Ponte revelou o caso no ano passado. Caio Vinicius foi denunciado por roubo a um shopping em Bragança Paulista (SP); família diz que ele trabalhava no momento do crime
O motoboy Caio Vinicius Gonçalves de Souza, 32 anos, foi absolvido dos crimes de roubo, associação criminosa e receptação. Na sentença expedida na terça-feira (2/4), a juíza Simone Rodrigues Valle, da 2ª Vara Criminal de Bragança Paulista, disse haver provas frágeis e insuficientes para uma condenação. Caio foi preso preventivamente em maio do ano passado após ser reconhecido por parte das vítimas por meio da foto do RG.
“Enfim a justiça foi feita, mesmo com toda demora”, diz Lidiane Regina da Silva de Araújo, 32 anos, esposa de Caio. Preso em maio do ano passado, Caio aguardava o julgamento no Centro de Detenção Provisória da Vila Independência, em São Paulo. Na quarta-feira (3/4), ele foi libertado.
A história do motoboy foi contada pela Ponte em reportagem publicada em junho do ano passado. O crime pelo qual o Caio foi acusado ocorreu em março de 2023 no Bragança Garden Shopping, em Bragança Paulista, interior de SP. Um grupo invadiu um quiosque do shopping armado com uma pistola e uma submetralhadora artesanal.
Foram levados 107 celulares que estavam armazenados no cofre da loja. Funcionários do estabelecimento, um segurança e uma cliente foram mantidos como reféns durante a ação. Os assaltantes fugiram, mas acabaram presos em Extrema, Minas Gerais, horas após o crime.
Na casa onde o grupo foi localizado, os policiais encontraram o RG de Caio, que passou a ser investigado. Um dos suspeitos presos em Minas Gerais é irmão do motoboy. A família alegou que não sabia que ele estava com o documento, que teria sido pego sem autorização. Em depoimento na delegacia e em juízo, o preso confirmou a versão.
Para além da confirmação do irmão, a juíza destacou inconsistências nos depoimentos das vítimas. Uma delas, na delegacia, reconheceu Caio pela foto do RG dizendo que ele portava uma arma durante o roubo. Depois, em juízo, disse que Caio usava máscara durante o crime. Já outra vítima disse que reconheceu Caio pelo olhar, por meio da máscara que ele usava. A magistrada destacou que as vítimas também não souberam precisar quantas pessoas participaram do crime.
Dois dos quatro suspeitos presos admitiram terem cometido o crime. Eles falaram em quatro pessoas no assalto. Nenhum deles mencionou a participação de Caio. A juíza também afirmou ser impossível ignorar que possa haver semelhança entre Caio e o irmão.
A magistrada apontou ainda que nenhum dos itens roubados foi encontrado com Caio, preso 45 dias após o assalto.
“Com relação ao acusado Caio, ao final, o quadro probatório revelou-se extremamente frágil, não havendo prova cabal da prática do crime de roubo em relação a ele”, escreveu a juíza.
Relembre o caso
Em entrevista à Ponte em 2023, a esposa de Caio contou que, no dia do roubo, ele estava trabalhando. O motoboy cuidava da lanchonete adquirida pela família em março do ano passado. O estabelecimento fica no Parque Edu Chaves, na zona norte da capital paulista, mesma região do bairro Vila Maria, onde ele mora com a esposa e o filho Gabriel, de 11 anos.
A prisão de Caio ocorreu 45 dias depois do roubo ao shopping, quando o motoboy estava em casa com a família. “Uma equipe do [batalhão de] Choque invadiu minha casa e reviraram tudo aqui. Vieram com um mandado já expedido no nome do meu esposo”, conta Lidiane.
A recepcionista contou que, no dia do roubo, o marido foi até a lanchonete em um carro de aplicativo porque a moto que usava quebrou. Lidiane relata que passou mal e só foi até o local por volta das 21h encontrar com Caio, a mãe dele e as irmãs para comer um lanche.
Lidiane também negou a versão de que Caio se juntou aos suspeitos presos para cometer crime de receptação de veículos dias antes do roubo ao shopping. A denúncia do MP-SP, assinada pelo promotor Adonai Gabriel, fala que entre os dias 26 e 31 de março, o grupo adquiriu um veículo produto de crime.
No dia 26, segundo a família, Caio comemorou com familiares o aniversário de 11 anos do filho Gabriel.
O que dizem as autoridades
A Ponte procurou o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) solicitando entrevista com os agentes públicos que conduziram as investigações do caso. Não houve retorno.