Ofício que solicita a investigação contém reportagens, entre elas, da Ponte Jornalismo, que comprovam a importância de se apurar a ação do militar que gerou detenções consideradas ilegais pela Justiça
O Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP) vai investigar a a atuação de Willian Pina Botelho, oficial do Exército Brasileiro que fazia as vezes de espião em redes sociais e grupos de participantes de manifestações contrárias ao governo de Michel Temer. O pedido partiu da Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional, órgão vinculado ao MPF, que no dia 13 de setembro enviou um ofício a Thiago Lacerda Nobre, chefe da Procuradoria da República em São Paulo.
Pina Botelho, que se apresentava como Balta Nunes, como revelou a Ponte Jornalismo, é apontado como o articulador das prisões arbitrárias de 26 pessoas no dia 4 de setembro, pouco antes de mais um protesto anti-Temer. Os jovens foram abordados nas instalações do Centro Cultural São Paulo e levados para o Departamento de Investigações do Crime Organizado (Deic), onde foram mantidos sem contato com familiares ou advogados por várias horas. Quando foram liberados, a Justiça paulista considerou as detenções ilegais. Para manter o disfarce no dia das prisões, Pina chegou a criar uma história que coloca em xeque a idoneidade da Polícia Civil, já que afirmou ter subornado o delegado para ser liberado.
Pina (ou Balta, sua identidade secreta) usava o Tinder, aplicativo para encontros amorosos entre desconhecidos, para se aproximar de mulheres com perfil que, para ele e as pessoas que provavelmente o chefiavam, significaria um risco à ordem pública.
No ofício encaminhado ao MPF-SP, o sub-procurador geral Mario Luis Bonsaglia destaca que a atuação do órgão no caso não cria qualquer conflito com as atribuições do Ministério Público Militar. Junto com o ofício, como forma de embasar a apuração, há cópias de reportagens da Ponte Jornalismo, El País e O Globo revelando a identidade do espião (leia aqui o ofício na íntegra).
Algumas questões ainda precisam de resposta. Quem deu a ordem? Quais as forças de segurança e em quais âmbitos a operação estava sendo gestada e, mais que isso, consentida? Em todas as reportagens sobre o caso, a Ponte Jornalismo questionou todas as esferas envolvidas: Polícia Militar, Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e Exército. No entanto, embora o Exército tenha confirmado que Willian Pina é mesmo oficial das Forças Armadas, ninguém quis assumir sua “paternidade”.