Mulher trans é espancada ao se recusar a fazer programa na zona leste de SP

    Segundo testemunha, Vitória Silva é uma mulher trans que vive em uma ocupação na região da Mooca e foi agredida ao recusar cliente que queria fazer sexo sem pagar

    Esquina da Rua do Hipódromo e Ipanema, perto de onde Vitória foi atacada | Foto: reprodução/GoogleMaps

    Vitória Silva, 21 anos, é uma mulher trans, negra, natural de Belém, no Pará, e tem como ocupação a prostituição. Ela vive em uma ocupação na Rua do Hipódromo, região da Mooca, na zona leste de São Paulo. O local abriga alguns remanescentes da favela do Cimento, que foi alvo de um incêndio em março deste ano. Na madrugada do último domingo (22/12), por volta das 3h, um homem que ocupava o banco do passageiro de um carro branco desceu na Rua Ipanema, onde estava Vitória, foi até ela e insistiu para fazer um programa sem pagar.

    Ao receber a recusa, o agressor pegou o rosto de Vitória e começou a bater contra um veículo. Na sequência, a vítima caiu no chão e o homem passou então a dar chutes na cabeça. Segundo uma testemunha, o agressor a chamou de “demônio” antes de iniciar o espancamento. Por fim, o homem, ainda não identificado, fugiu.

    Segundo a advogada Juliana Hashimoto, que acompanhou a única testemunha do caso ao 8º DP (Brás), onde foi registrada a ocorrência como lesão corporal e injúria, Vitória vive em situação de vulnerabilidade, tem a saúde frágil e está muito machucada. “Ela ficou desfigurada. Nos preocupou muito porque passadas mais de 24 horas ela ainda tinha marcas de sangue no rosto, dava a impressão que tinham feridas abertas ainda, que faltava um cuidado maior”, conta.

    No B.O. está registrado que o agressor “tentou fazer sexo” com a vítima sem pagar. Questionada se isso não seria uma tentativa de estupro, a advogada concordou. “Se ela no exercício da profissão [de garota de programa], negou o cliente porque ele não queria pagar,ele estava forçando o sexo sem pagamento, então é um abuso, sim”, declarou.

    Vitória está internada no Hospital Municipal João XXIII, na Mooca, e, de acordo com Juliana, existe uma suspeita de tuberculose então ela está em observação e sendo mantida em local apartado dentro da unidade de saúde.

    A advogada Juliana Hashimoto ainda destaca a dificuldade que teve para conseguir garantir o registro da ocorrência, fundamental para que o IML (Instituto Médico Legal) possa fazer o exame de corpo de delito. “Fomos no 18º DP (Alto da Mooca), que seria a delegacia mais próxima dos fatos, e não conseguimos registrar a ocorrência porque informaram que era ponto facultativo. Eu questionei porque era segunda-feira ainda e não véspera de Natal, mas mesmo assim não registraram a ocorrência, disseram que só estava funcionando a delegacia on-line e tivemos que ir até o 8º DP”, contou.

    Procurada, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou, em nota, que “no 18° DP foi feito o encaminhamento à Central de Flagrantes (8°DP), que funciona 24 horas, inclusive em feriados, pontos facultativos, finais de semana, para que a autoridade policial requisitasse os exames periciais, fundamentais para as investigações de ocorrências como essas” e que o caso está sendo investigado.

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