‘Não tem nem 20 corpos, muito pouco’, afirma agente penitenciária no RN

    ‘Aqui na minha frente tem três cabeças (…), o mar muito convidativo para tomar uma gela e assistir’, afirma presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários em áudio enviado durante massacre

    Presos em Alcaçuz são revistados após rebelião

    Durante o massacre que resultou em 26 mortos no Presídio de Alcaçuz, em Natal, no Rio Grande do Norte, a presidente do Sindasp-RN (Sindicato dos Agentes Penitenciários), Vilma Batista, enviou áudio por Whatsapp dizendo “não tem nem 20 corpos, muito pouco”. Na mesma fala, a agente prossegue afirmando que, naquele momento, estava vendo três cabeças decapitadas diante dela, acrescentando que “a maré aqui está alta e o mar muito convidativo para tomar uma gela e assistir”:

    O massacre aconteceu entre sexta (13) e sábado. Logo depois que a rebelião foi controlada, agentes penitenciários passaram a fazer a contenção e se mantiveram em vigília para evitar outras mortes. Essa unidade prisional é controlada pelo Sindicato RN, aliado ao CV (Comando Vermelho) e FDN (Família do Norte). Os detentos ligados ao PCC estão isolados no pavilhão 5.

    Procurada pela Ponte Jornalismo, Vilma Batista estava dentro da penitenciária e não conseguiu atender a ligação, mas respondeu a alguns dos questionamentos em áudio pelo mesmo aplicativo. A presidente do sindicato pediu para desconsiderar o áudio anterior e disse e que os agentes não desejam uma carnificina e querem pacificar o cenário. Ela também recuou das críticas que havia feito ao juiz Henrique Baltazar Vilar Santos:

    Ao mencionar o juiz Henrique Baltazar, Vilma estava provavelmente se referindo a uma postagem feita pelo magistrado às 3h29 da manhã de domingo, em que ele propunha uma reflexão com a seguinte provocação:

    Muitos veículos de imprensa divulgaram o texto do juiz, que usou mais uma vez a rede social para esclarecer e criticar a forma com que as informações foram veiculadas. Acusou alguns jornalistas de desconhecerem interpretação de texto e escreveu: “A propósito, discordo de parte do gerenciamento que a Sejuc faz do sistema prisional (principalmente quanto à insistência em presídios maiores), mas dizer que o secretário Virgolino [secretário de Estado da Justiça e da Cidadania do Rio Grande, Wallber Virgolino Ferreira da Silva] não tem experiência seria desconhecimento da realidade. E procuro só escrever/falar o que sei. Eu escrevi ‘no início alguém experiente para a Sejuc’ e não ‘inicialmente’. Esta significaria ‘a primeira proposta’; aquela, significa ‘no início do governo’. Tive essa conversa com a equipe do governador em 05 de janeiro de 2015, quando adverti o erro que estão cometendo. Pois então o governador nomeou como secretário um rapaz honesto e de boa vontade, mas totalmente inexperiente, que não soube como lidar com o sistema prisional, resultando e não sabendo como enfrentar as rebeliões de março de 2015”.

    Além disso, o juiz explica em outra postagem que o Sindicato do RN, responsável pela carnificina que deixou até agora 29 mortos, surgiu em 2013, mas ganhou força depois das rebeliões de março de 2015. A reportagem da Ponte Jornalismo escreveu ao juiz para pedir uma entrevista, mas até agora não obteve resposta.

    Presos rebelados em Alcaçuz no final de semana

    No dia 4 de janeiro, o Sindasp-RN divulgou uma nota sobre o massacre em Manaus, em que a presidente Vilma Batista se solidariza com os agentes do Amazonas e sugere que o Estado perdeu o controle do sistema. “Infelizmente, esse tipo de coisa pode acontecer a qualquer momento em qualquer estado brasileiro, pois a crise no Sistema Penitenciário é geral. Aqui no Rio Grande do Norte, nós já vimos casos do crime organizando afrontando o Estado, ordenando ataques de dentro de presídios e também já foi registrada uma série de mortes entre facções nas unidades prisionais”, afirma.

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