Em entrevista à Ponte, Ailton Costa, que perdeu a mulher vítima de tiroteio entre traficantes e PMs no Complexo do Alemão, afirma que versão da polícia é contraditória
Foram duas perdas em pouco mais de um mês: a filha Lorena, que ia nascer daqui 4 meses, e a mulher, Karolayne Nunes, de 19 anos. A auxiliar de creche foi alvejada durante um tiroteio entre traficantes e policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), no dia 2/12, na localidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O marido dela, o militar Ailton Costa, afirmou à Ponte que tem cada vez mais convicção de que a versão dada pela polícia militar sobre o caso é contraditória. E quer justiça. “Não podemos deixar essa história cair no esquecimento. Eu só quero justiça, porque minha filha se foi em dezembro, e agora a Karolayne”, afirmou Ailton, que agora aguarda o resultado da perícia sobre o caso para saber quais serão os próximos passos.
“A gente passou por uma esquina na qual os policiais geralmente ficam, mas dessa vez eles não estavam lá quando passamos. Assim que estacionei o carro e a Karolayne fechava o vidro, um traficante passou dando tiro pro alto e desceu a rua da Fazendinha. Como não vimos policiais militares, achamos que já tinham ido embora”, relatou. “Alguns instantes depois, quando estávamos saindo do carro uns policiais viraram a esquina já atirando. Eles estavam subindo, e tinham acabado de sair do carro. O tiro que atingiu meu carro veio da direção deles. Os traficantes não trocaram tiro com os policiais porque se isso acontecesse meu carro ia ser alvejado na frente também. Mas o carro foi alvejado de trás pra frente”, insistiu Ailton.
Duas testemunhas do tiroteio conversaram na época com a Ponte sob condição de anonimato. As pessoas, que estavam próximas do local, confirmaram que houve um confronto entre a polícia militar e traficantes nas proximidades da rua Antônio Austregésilo, próximo à uma padaria.
Por conta dos ferimentos, a jovem, grávida de 5 meses, perdeu Lorena, a filha do casal, dois dias depois do episódio. Segundo Ailton, marido de Karolayne, a recuperação estava sendo promissora, mas ela acabou piorando bruscamente devido a uma infecção hospitalar ainda não explicada. A jovem faleceu no último dia 10.
Segundo informações do jornal o Globo, o veículo tinha, ao menos, três marcas de tiro na lataria e cinco dentro do carro. A investigação está sob responsabilidade do 45ª DP (Complexo do Alemão), que afirmou, em nota, que o caso está sob segredo de justiça.
Procurada, a CPP (coordenadoria de Polícia Pacificadora) não respondeu as contradições apontadas pelo marido de Karolayne e nem pelas testemunhas e nem se agentes da UPP Fazendinha foram chamados para depor.