Nazistas colocam faixa com frase racista em passarela de São Paulo

Intervenção foi registrada por homem que passava na região da Av. Nove de Julho, em SP, e jogou faixa com a frase “Orgulho branco não é crime” no lixo: “É uma ação covarde”

Faixa com dizeres racistas “Orgulho branco não é crime” foi jogada no lixo. | Foto: arquivo pessoal

Gabriel* não acreditou quando se deparou com uma intervenção racista na Passarela Fundação Getúlio Vargas, que atravessa a Av. Nove de Julho, zona central da capital paulista, contendo os dizeres “Orgulho branco não é crime”. A frase é utilizada por grupos neonazistas e supremacistas de ultradireita e tem origem em um movimento dos Estados Unidos denominado “White Pride”. Junto à ela, havia uma variação da cruz celta, simbologia usada atualmente por estes grupos, principalmente na Europa. Ele diz que passava na região na manhã desta terça-feira (23/11) quando viu a faixa, ficou revoltado e decidiu retirá-la e jogá-la no lixo. “Pedi para que um senhor que estava ali perto gritasse caso alguém viesse”, contou em entrevista à Ponte.

A ação acontece um dia depois de um encontro entre supostas células neonazistas estrangeiras e brasileiras no centro de São Paulo registrado nas redes sociais. Na região oeste da cidade, o músico antifascista Dennis Sinned, 38, denuncia que foi agredido com socos, chutes e garrafadas por um grupo quando estava prestes a se apresentar em um bar neste sábado (20/11). À Ponte, ele afirmou acreditar que a ação foi premeditada por se tratar de um evento público.

https://ponte.org/grupo-agride-musico-em-bar-antifa-na-zona-oeste-de-sao-paulo/

Para Gabriel, tanto a ação registrada neste fim de semana quanto a desta manhã, “é uma ação covarde” e, por isso, decidiu retirar a faixa como um ato de repúdio. Segundo ele, os bairros Bela Vista, Liberdade e Bixiga – onde há uma população negra presente e resistente – registram práticas parecidas há tempos. “Venho do movimento punk, hardcore. Então, era muito comum esse tipo de coisa acontecer dentro do movimento. Eu acho que isso nunca parou. Continuo vendo pichações e ações de grupos neonazistas nesses bairros que têm uma história negra muito forte, carregada de sentidos e resistência bem no centro da cidade”, denuncia.

A ONG Safernet aponta que o movimento neonazista ganhou força no Brasil, principalmente no ambiente virtual. Apenas em 2020, a organização registrou 9.004 denúncias anônimas e 3.884 páginas com contéudos neonazistas. Gabriel acredita que é neste ambiente em que há uma organização e uma sustentação financeiras dos grupos, seja pelas próprias plataformas, apoio institucional, privado ou por milícias digitais.

https://ponte.org/grupo-de-whatsapp-exalta-hitler-e-faz-chacota-com-morte-de-marielle/

Este cenário, para ele, acontece por políticas e ações que incentivam a atuação dos movimentos. “Não é só uma permissibilidade coletiva entre eles. É estruturalmente permissivo que eles ajam dessa maneira. Naquela situação, acredito que algum senhor chamaria a polícia para ver a faixa, ou enquanto eles tivessem colocando a faixa, e era mais fácil que a polícia escoltasse eles”.

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Há também fatores políticos que alimentam estes grupos, destaca ele. “Vários canais no YouTube recebem verbas do governo para incentivar esse discurso, criar novas subjetividades, para fazer com que pessoas jovens pensem dessa maneira. O capitalismo e o racismo estrutural, mais do que permitem, incentivam esse comportamento”, opina.

O que diz a polícia

A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo para falar sobre o caso e as medidas a serem tomadas contra movimentos de supremacismo branco. A pasta enviou a seguinte nota:

“A Polícia Civil investiga os fatos por meio de inquérito instaurado pela DECRADI. Diligências estão em andamento visando a identificação de testemunhas, bem como dos responsáveis pela infração.”

ATUALIZAÇÃO: reportagem atualizada às 13h15 do dia 24/11/2021 para incluir nota da SSP/SP

*Nome ocultado a pedido do entrevistado.

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