‘Apagamentos’ traz visão crítica sobre o que significa ser independente, propõe reflexão sobre a permanência da escravidão e o racismo no processo de construção do Brasil
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas”, diz o hino nacional em referência ao local onde D. Pedro I teria realizado o Grito da Independência, em 1822. No local, no bairro do Ipiranga em São Paulo, estão o Parque da Independência – em referência à data comemorada nesta sexta-feira (7/9) – e o Museu do Ipiranga – que, em dificuldades financeiras, está fechado para reformas desde 2013.
Mas se a independência do Brasil foi orquestrada e realizada por um grupo de privilegiados brancos, que libertou o país da condição de colônia, mas manteve os negros escravizados, estamos falando de liberdade para quem, afinal? Essas são algumas das inquietações propostas pelas atrizes e atores negros que participaram da performance “Apagamentos”, sob direção, dramaturgia e concepção de José Fernando Peixoto de Azevedo. A intervenção fez parte da programação “Museu do Ipiranga em Festa”, evento realizado pelo Sesc-SP em parceria com a Universidade de São Paulo (USP).
Durante toda a performance, a pergunta se colocava: “Quais são os vínculos entre independência e escravidão? A permanência da escravidão e a ideia de nação que apagou a nação. Da abolição, o apagamento.”
Durante cerca de trinta minutos, os treze performers caminharam pelo jardim do antigo Palácio da Família Real Portuguesa – hoje Museu do Ipiranga – com trajes de festa coloridos. Em fila indiana, a partitura corporal retomava imagens de exploração e violência, apostando na técnica de estranhamento brechtiano.