Policial buscava rapaz que empinava moto e agrediu Caique Aparecido dos Santos após ele dizer que tinha acabado de almoçar
Era por volta de 16h do domingo de Páscoa. Caique Aparecido dos Santos, de 18 anos, tinha acabado de almoçar e estava em seu quintal, no Capão Redondo, zona sul da cidade de São Paulo. No dia em que famílias confraternizam, o jovem sofreu uma agressão da PM durante abordagem na frente de sua casa.
Segundo o rapaz, ele estava no quintal quando uma viatura da Polícia Militar chegou e pediu para ele sair. A dupla de PMs estaria em busca de um homem de bermuda e camiseta branca, que estava empinando uma moto e provocando os policiais. Caique foi agredido quando negou que fosse o motociclista. A agressão foi registrada em vídeos obtidos pela Ponte (veja acima).
Instantes antes do golpe, o policial pede para a mãe pegar o documento de identidade do adolescente dentro da casa. Só depois disso que a agressão acontece em frente a outros familiares, como tia a avó, além dos moradores da rua que acompanhavam a situação.
Tapa no rosto
“O policial chegou perto e falou bem baixo: ‘Sei que era você que estava na moto, cadê a moto?’. E eu falei ‘Oxi, que moto? Eu acabei de almoçar’. Foi a hora que recebi o tapa”, conta Caíque, em conversa com a reportagem, logo após levar as imagens da agressão à Corregedoria da PM.
Depois do tapa, pessoas que acompanhavam a ação da PM questionaram o motivo da violência. Em resposta, o policial apontou que levaria Caíque para a delegacia por desacato, sem especificar o que ele havia feito. “Ele queria me levar de qualquer jeito. Acabou com o dia, estava tudo indo bem”, diz o jovem.
Os abusos só terminaram quando o pai de Caíque chegou. Carlos Aparecido de Siqueira, 46, conversou com os PMs e ouviu, inclusive, um pedido de desculpas do policial que deu um tapa no seu filho. “Eu falei para ele que deveria pedir desculpas para o Caíque, ele que levou o tapa e ainda perguntou se era ladrão. Foi a maior confusão, vieram sete viaturas na minha rua”, conta.
De acordo com Siqueira, o jovem finalizou o ensino médio recentemente e está tirando carteira de habilitação para trabalhar como motorista da Uber, aplicativo de transporte. Até o ano passado, Caíque era jovem aprendiz no hospital Sírio Libanês, mas o contrato se encerrou. “Ele nunca teve problema na justiça, nem fica andando na rua de bobeira. E vem o policial e faz isso com meu filho?”, pergunta, indignado.
Policiais são afastados
Questionada pela Ponte, a Polícia Militar explicou que os dois policiais envolvidos na abordagem foram afastados do serviço na rua e passam para trabalhos administrativos. “A Polícia Militar esclarece que as imagens foram analisadas e os policiais envolvidos na ocorrência identificados. Eles foram afastados do serviço operacional até a conclusão do IPM (Inquérito Policial Militar) instaurado. A Corregedoria acompanha o caso”, informou a corporação, em nota, sem identificar os policiais.
Por outro lado, a SSP (Secretaria da Segurança Pública), acionada por meio de sua assessoria de imprensa terceirizada, a CDN Comunicação, não respondeu aos questionamentos feitos até a publicação da reportagem. As seguintes perguntas foram feitas:
É comum policiais militares interpretarem um ‘oxi’ como desacato?
Por qual motivo o PM deu um tapa no rosto do homem abordado?
Configura abuso de autoridade agredir uma pessoa durante um procedimento de abordagem, na qual ela não demonstra resistência?