Novo ouvidor das polícias de SP, Claudinho Silva toma posse junto a movimentos sociais

Evento ocorreu na zona sul da cidade de São Paulo neste sábado; “a Ouvidoria das Polícias é sustentada pelos movimentos sociais de rua”, disse Débora Silva das Mães de Maio

Posse do novo ouvidor das polícias Claudinho Silva, neste sábado (25/3), na zona sul de SP | Foto: Daniel Arroyo / Ponte Jornalismo

Três meses à frente do cargo, Claudinho Silva recebeu neste sábado (25/3) das mãos de representantes de movimentos sociais o certificado de posse de ouvidor das polícias de São Paulo. O evento ocorreu na igreja de Santos Mártires, no Jardim São Luís, zona sul da cidade de São Paulo. O território chegou a figurar como o lugar mais perigoso do mundo na década de 1990. Fundada pelo padre Jaime Crowe, a Sociedade Santos Mártires foi essencial na luta pela redução da mortalidade na região e ainda hoje atende 10 mil pessoas mensalmente.

Com discurso por trabalho coletivo e mobilização, o novo ouvidor garantiu que atuará ao lado dos grupos de direitos humanos e procurará manter um bom diálogo com os órgãos de segurança pública do estado. “Eu sinto que a Ouvidoria, a partir de hoje, torna-se um espaço de construção coletiva, que seguiremos construindo coletivamente”, declarou Claudinho em entrevista à Ponte.

Militante do movimento negro e morador da Favela Monte Azul, no Jardim Santo Antônio, na mesma região onde foi o evento de posse, Claudinho fez questão de agradecer à sua comunidade por estar no cargo que exerce atualmente. “Eu sou filho de vocês. Fui salvo pela Associação Monte Azul, fui salvo pela rua, fui salvo pelo hip hop”. 

A trajetória do ouvidor nos movimentos sociais foi relembrada pelas pessoas que discursaram durante o evento. “Ninguém cala a voz de uma mãe. Nós das Mães de Maio trabalhamos junto com a Ouvidoria há 17 anos. Já passamos por vários ouvidores, e agora temos um ouvidor que corresponde à nossa periferia, e temos que dar sustentabilidade”, diz Débora Silva, coordenadora do Movimento Mães de Maio.

“A Ouvidoria das Polícias é sustentada pelos movimentos sociais de rua e não por aqueles que ficam trancados em escritórios fazendo relatório”, complementou Débora.

Claudinho Silva assumiu o cargo de ouvidor em dezembro do ano passado depois de um cansativo imbróglio nas últimas eleições para assumir o posto. O processo se arrastou por quase um ano quando a Secretaria de Justiça e Cidadania suspendeu o pleito em novembro de 2021. Durante todo o ano de 2022, Elizeu Soares Lopes ficou no cargo mesmo depois do fim do seu mandato. 

“Nós queríamos que a Ouvidoria voltasse para o povo, para os movimentos, e hoje a Ouvidoria está voltando para o povo e para os movimentos”, disse Alderon Costa, que foi o nome mais votado da lista tríplice que resultou na escolha de Claudinho.

Em um cargo que precisará acolher as demandas das vítimas de violência policial e manter uma boa relação com os órgãos de segurança do Estado, o novo ouvidor destacou em seu discurso a má remuneração dos policiais paulistas, o nível de estresse a que estão submetidos e e alto índice de suicídio dentro das corporações. Maria Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique, jovem morto no Massacre de Paraisópolis, em dezembro de 2019, criticou esta fala do ouvidor.

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“Ele falou que os policiais ganham pouco, mas isso não justifica matar nossos filhos. Tem muito pai de família que ganha um salário mínimo, mas não sai por aí matando o filho de ninguém. Se eles estão perturbados psicologicamente, não podem ir para rua para matar outras pessoas”, declarou Maria Cristina.

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