‘Nunca ouvi uma história boa com arma de fogo’, diz sobrevivente de ataque de ex-PM

    Luana Gomes Feitoza conta história vivida ao lado do marido, Juan Phillip Almeida Swanepoel. Ele foi morto pelo ex-PM Wellington Marcos de Almeida, que a assediou em um posto de gasolina

    Casal começou relação em agosto de 2015 | Foto: Arquivo/Ponte

    *Relato com base em entrevista ao repórter Arthur Stabile

    Aquela sexta-feira (4/9) era um dia bem especial. Eu e o Juan estávamos comemorando nosso aniversário de namoro, que foi no dia 22 de agosto. Em outubro faríamos três anos de casamento.

    Conheci o Juan na escola, mas não tínhamos amizade. Era um “oi, tudo bem” e só. Foi no aniversário de um amigo que conversamos e depois pedi o telefone dele ao amigo.

    Eu apelei, disse “pelo amor de Deus, não conheço ele, mas é o amor da minha vida”. Mandei mensagem e começamos a conversar.

    Nosso primeiro beijo foi às 4h09 da manhã do dia 22 de agosto de 2015, no Ginásio Poliesportivo de São Bernardo. Foi muito especial. Estávamos ouvindo Snoop Dogg e tomando Heineken.

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    Nós falávamos de ter filho em 2025. Eu acabo a faculdade de biomedicina em 2022, faria uma especialização de mais dois anos. Ele faria farmácia, com fim em 2024.

    Como terminaríamos de estudar em 2024, o filho seria para 2025. Certeza absoluta. Ele me dizia: “meu avô precisava segurar meu filho”.

    Nós dois usaríamos aquele fim de semana do dia 4 de setembro para comemorar o aniversário de namoro. Na sexta fui almoçar com ele no trabalho, em seguida fui ao shopping comprar roupa.

    O Juan estava de tênis e roupa nova no posto de gasolina. Fui buscá-lo no trabalho 17h. Fomos para casa porque recebemos geladeira nova, instalamos, e encontramos nossos amigos. Era 19h.

    Fomos a um posto, não o do ocorrido. Abastecemos o carro e começamos a comemorar. Daí por diante começo a ter lapsos. Não me recordo do exato momento em que aconteceu.

    Não tenho essa memória, de como foi o assédio. Os amigos que contaram que foram cantadas. O Juan era muito calmo, para chegar àquele estado de nervos, foi algum tipo de contato físico.

    Nunca tínhamos o visto na vida. Amigos e meu marido foram e bateram nele, deram uma surra. Ele pegou e saiu prometendo vingança, que ia voltar armado. Não levamos muito a sério. Estava muito alterado.

    Voltou com carro e dizem que já chegou com porta aberta e arma na mão. Quando todo mundo fugiu eu fui para cima. O Juan era o amor da minha vida, jamais o deixaria sozinho naquela situação.

    Plano dos dois era de ter filhos em 2025 | Foto: Arquivo/Ponte

    Levei três tiros e me arrastei para o lado, enquanto o Juan se desesperou e foi para cima dele. Foi a hora que caem no chão e o tiro é disparado. O cara levantou e olhou para onde eu estava. Se eu estivesse no mesmo lugar ele teria me alvejado novamente.

    Tomei um tiro que perfurou meu intestino em três lugares. Fiquei três dias na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e dois no quarto. Não fosse uma calça mais justa que eu usava, teria perdido mais sangue e morreria.

    Soube da morte do Juan na manhã de sábado, 10h. Tudo aconteceu era 23h39. Minha cirurgia durou quatro horas.

    Tenho sequelas e uma bala alojada. Estava no osso ilíaco, agora está na nádega e fica mais superficial a cada dia que passa. Estou de cadeira de rodas e como sopa. Perdi 15 centímetros do intestino e o órgão precisa se readaptar. Foram 40 pontos internos e externos.

    Eu acredito na categoria boa da polícia. Meu padrasto é um sargento da Força Tática. Ele foi à delegacia e falou com ele. Perguntou “foi você?” e ele respondeu “fiz merda de novo”.

    Juan trabalhava com logística em uma fábrica de remédios | Foto: Arquivo/Ponte

    Quando entrei ambulancia eu informei que meu padrasto era policial. A coisa andou mais agilizado. Em 40 minutos, mais ou menos, ele já estava preso. E ele ser ex-PM foi bem difícil.

    Como pode ter passado por um exame psicológico da polícia? A PM, quando expulsa, tinha que dar um suporte. Se foi por um motivo grave, que seja preparado para entrar na sociedade. Quantos ex-PMs não fazem bosta por aí?

    Eu tenho sorte de estar vida, meu marido, infelizmente, não teve sorte. Nunca ouvi alguém contar uma história boa com arma de fogo.

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