Militar Rêgo Barros afirma que tropa se mantém em cima de suas virtudes; advogado da Comissão da Verdade de SP contrapõe: ‘Se é algo que as Forças Armadas não têm e nunca tiveram é a transparência’
O general Rêgo Barros, chefe do CCOMSEx (Centro de Comunicação Social do Exército), afirmou na manhã de sábado (13/09) que o Exército brasileiro viveu um momento de grande desconforto no passado e que, apesar disso, sempre foi transparente. “O Exército de ontem é o mesmo de hoje e será o mesmo de amanhã. Nos mantemos em cima das nossas virtudes”, disse. Barros atuou na missão de paz do Haiti, esteve à frente da força de pacificação nos complexos de favela do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro.
De acordo com o militar, “o Exército sempre foi transparente”: “Foi no passado, é no presente e será no futuro. Vivemos um período de extrema transparência no Brasil. O Exército vem colaborando com o MP (Ministério Público) e com as Comissões da Verdade”, afirmou. Segundo ele, a tropa viveu um “momento de desconforto, que poderá viver novamente no futuro”, disse. Ele avaliou que esses momentos são naturais no processo de manutenção e correção do Exército.
Mas Renan Quinalha, advogado da Comissão da Verdade de São Paulo, rebate: “Se é algo que as Forças Armadas não têm e nunca tiveram é a transparência necessária para uma instituição democrática”, afirmou. “Em uma democracia, as corporações militares devem se subordinar inteiramente ao poder civil, que é eleito e que é legítimo para governar. Mesmo com uma lei avançada de acesso a informações, as Forças Armadas persistem com um discurso negacionista, perpetuando o silêncio e o esquecimento”, complementou.
Segundo o advogado, relatórios de sindicância feitos a pedido da CNV (Comissão Nacional da Verdade) “demonstram o cinismo e o descaso” dos militares em relação à democracia. “Negam violações de direitos humanos que já foram reconhecidas por leis e por outras comissões de Estado”, disse.
Quinalha cita como exemplo o ofício do general Enzo Martins Peri, datado de 25 de fevereiro de 2014, que ordena que todas as unidades do Exército que forem eventualmente intimadas a depor sobre o período de 1964 a 1985 devem submeter a requisição a ele.
Em 8 de setembro deste ano, o general José Brant Teixeira usou do ofício para se negar a depor na CNV, “segundo orientação do comando do Exército, as convocações devem partir daquela autoridade”, justificou-se. O oficial da reserva José Conegundes, intimado junto com e Teixeira, também se negou a depor: “Não vou comparecer. Se vierem. Não colaboro com o inimigo”.
Para o general Rêgo Barros, Teixeira e Conegundes são responsáveis por aquilo que dizem e que não representam a opinião do Exército. Entretanto, questionou a CNV. “Foi uma afronta o que a Comissão da Verdade fez. É certo divulgar o depoimento sigiloso? E se eles vierem a sofrer algo por conta da exposição?” Segundo Quinalha, “os trabalhos das Comissões da Verdade são públicos. Elas prestam contas do que fazem e como fazem, ao contrário das Forças Armadas”.
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