‘O GCM me empurrou e me bateu com cassetete’, denuncia mulher negra grávida

    Auxiliar de limpeza e marido afirmam que foram agredidos por guardas quando tentavam ver ambulantes tendo produtos apreendidos em São Bernardo do Campo, na Grande SP

    Homem de vermelho tenta agredir grávida. Em seguida, GCM a empurra | Foto: Reprodução

    Por volta das 15h, a auxiliar de limpeza Tamires Passos Silva, 29, passeava com o marido, o motoboy Roberto Brito, 35, o filho de quatro anos e uma amiga por lojas da Rua Marechal Deodoro, no centro de São Bernardo do Campo (Grande SP), na sexta-feira (28/8).

    Ao ver uma aglomeração de pessoas na altura do número 1499, a família conta que resolveu ver o que estava acontecendo: guardas civis metropolitanos estavam apreendendo máscaras que estavam sendo vendidas por um homem e uma mulher na rua.

    Quando se aproximaram, Tamires afirma que um homem de vermelho, usando óculos, agrediu seu companheiro. “Ele olhou para o meu marido e bateu nele”, afirma. “Aí eu fui perguntar para ele porque ele tinha batido no meu marido. O policial [GCM] veio lá de trás me bateu, me empurrou, eu caí sentada, e bateu o cassetete no meu rosto, que cortou a minha boca e levei dois pontos”, prossegue ela, que está grávida de três meses.

    Ao ver a esposa com a boca sangrando, Roberto conta que tentou reagir. “Eu fui para cima do policial [GCM] que estava vindo para cima da gente junto com o de vermelho, que a gente não sabe quem é, mas que tomou a frente da situação”, complementa. “Me deram soco, chute, me bateram com cassetete mesmo algemado no chão”, conta.

    Tamires mostra boca machucada e conta que levou dois pontos após ser agredida com cassetete | Foto: Arquivo pessoal

    Em vídeos registrados no local, há imagens desse homem de vermelho tentando partir para cima dos dois e um dos GCMs com o braço estendido em direção à auxiliar de limpeza. A filmagem também mostra um ambulante recebendo um golpe de enforcamento.

    Pelo menos oito guardas estariam envolvidos na ação. O casal afirma que as pessoas brancas que estavam olhando não foram agredidas. “A gente acha que foi preconceito porque no meio de tanta gente, só eu e meu marido fomos agredidos porque a gente tem pele negra”, critica. “A minha amiga pegou meu filho para dentro da loja, mas ele me viu com a boca machucada e o meu marido algemado e começou a gritar”.

    De acordo com ela, eles foram levados cada um em uma viatura para hospital da região. “Eu estava com medo de perder a criança porque eu já tinha perdido um em março grávida”, lembra.

    Viatura dos GCMs que teriam agredido casal em São Bernardo do Campo | Foto: Arquivo pessoal

    No 1º Distrito Policial da cidade, o casal conta que se sentiram intimidados por um dos guardas. “Ele ficava olhando para gente, mexendo na arma”, afirma Roberto. Os dois disseram que não receberam cópia do boletim de ocorrência, não sabendo se foram indiciados por algo nem o que os GCMs disseram. “Só deram um papel para gente assinar para fazer corpo de delito”, complementa Tamires. Ela também afirma que o homem de vermelho não foi levado ao DP.

    O advogado do casal, Carlos Alexandre Klomfahs, disse à reportagem que também foi à delegacia solicitar o boletim de ocorrência, mas não forneceram a cópia. Ele entrou com uma representação ao Ministério Público para que o órgão apure o caso e cobre responsabilidade da Polícia Civil e da GCM. “Nós entramos com uma notícia-crime de tentativa de homicídio porque o GCM assumiu o risco ao agredir com cassetete uma mulher grávida na cabeça”, explica. Para ele, os guardas também teriam cometido os crimes de racismo e tortura.

    Outro lado

    A Ponte não localizou no site da Prefeitura de São Bernardo do Campo, comandada por Orlando Morando (PSDB), nenhum endereço de e-mail ou telefone para atendimento à imprensa. A reportagem tentou contato com os telefones disponíveis e e-mail informado como do comando da GCM, mas ninguém respondeu as chamadas e os e-mails voltaram. O espaço está aberto para manifestação da pasta.

    Também procuramos a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do estado, sobre a não disponibilização de BO ao casal, e aguarda um posicionamento.

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