Operação apreende drogas e armas em pelotão da PM do Paraná

Vítima afirma que policiais exigiram R$ 10 mil e uma arma para não armarem um flagrante de tráfico de drogas contra ela

Imagem de divulgação da Rotam paranaense

Drogas, armas e munições sem procedência foram apreendidas nesta terça-feira (20/12) em Londrina (PR) durante uma operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná. Poderia ser apenas mais uma ação comum de combate à criminalidade, não fosse o local onde a apreensão foi realizada. Todo o material estava na sede do Pelotão das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), da Polícia Militar, na cidade e nas residências de policiais investigados.

A operação contou com o apoio da Corregedoria-Geral da PM e partiu da denúncia de uma pessoa que teria sofrido extorsão no ano passado. Segundo ela, os policiais denunciados exigiram da vítima R$ 10 mil e uma arma para que não fosse forjado um flagrante de tráfico de drogas contra ela.

Além da Rotam, os mandados de busca e apreensão foram feitos em residências de policiais. Ninguém foi afastado. Tampouco foram divulgados os nomes dos suspeitos pelo crime de concussão (quando um servidor público se vale da função para exigir uma vantagem pessoal).

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“Estamos apurando a participação dos policiais envolvidos e de eventuais terceiros”, disse o coordenador do Gaeco em Londrina, o promotor Jorge Barreto. Afastamentos ou medidas “mais drásticas”, segundo ele, só poderão ser tomadas no decorrer das investigações. “Por enquanto não dá para responsabilizar ninguém”, diz Barreto.

Não é de hoje que policiais militares de Londrina vêm sendo denunciados por práticas ilícitas. Familiares de pessoas mortas durante abordagens acusam PMs não só de extorsão, mas de adulteração de provas e de execuções.

Mãe de uma das mais de 50 pessoas mortas pela polícia somente neste ano em Londrina diz que, em vez de prender seu filho, que estava foragido, policiais o ameaçavam. Em troca de não levá-lo de volta para a cadeia, queriam que ele “doasse” uma arma de fogo. “Meu filho me contou. Disse que não tinha como arrumar a arma que os policiais queriam.”

O jovem acabou sendo morto pelos policiais, que alegaram confronto durante uma abordagem, mas, segundo a mãe, ele nem armado estava no dia em que morreu.

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Em todos os casos que resultam em morte, a Polícia Militar alega ter havido confronto. Diz que as pessoas abordadas reagiram armadas. E, durante troca de tiro, foram mortas. Nenhum policial, no entanto, é ferido. E, na maior parte dos casos, os familiares acreditam que a PM “planta” armas junto aos cadáveres para disfarçar o que, de fato, seriam execuções.

Recentemente, 19 policiais foram afastados no Paraná, suspeitos de praticarem esse tipo de crime.

Pouco antes, dois PMs (irmãos gêmeos) foram presos em Guaratuba (PR), acusados da mesma prática

Também neste ano, em Mato Grosso, nada menos que 60 policiais militares foram alvos de operação suspeitos de forjarem confrontos e matar 24 pessoas.

A denúncia

O promotor Barreto diz que o Gaeco foi procurado pela vítima que teria sido extorquida pelos PMs. “A pessoa nos procurou contando que estava sendo chantageada pelos policiais e que tinha medo da reação deles caso não entregasse a arma solicitada”.

Questionado se acredita tratar-se de um fato isolado dentro da Rotam, o promotor declara que ainda é cedo para qualquer conclusão a esse respeito. “Não posso dizer que existam outras pessoas envolvidas. Nem que existam outras práticas semelhantes (dentro da Polícia).”

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Caso tenha alguma denúncia contra policiais, a população pode relatá-la ao Gaeco por meio do site . De acordo com o promotor, a pessoa não precisa se identificar.

Em nota, o major Marcos Tordoro, da PM, disse que tudo que foi apreendido na sede da Rotam de Londrina será encaminhado à Corregedoria da PM e as circunstâncias serão apuradas, na forma da lei.

Publicada originalmente na Rede Lume de Jornalistas

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