Operação segue há mais de 17 horas na Maré, Rio, e já deixou três mortos

    Segundo testemunhas, ação contou com invasões a casas sem mandado judicial e um policial teria quebrado uma cadeira na cabeça de um morador

    Moradores relataram presença de caveirão do COE (Comando de Operações Especiais) da PM do Rio nas favelas do complexo da Maré. | Foto: arquivo pessoal.

    A operação policial que acontece nesta terça-feira (18) teve início por volta de 5h da manhã no Parque União, Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré e já passa de 15 horas de duração. A ação está sendo marcada por intensos tiroteios relatados por moradores, com a presença de dois caveirões circulando pelas favelas. As violações durante a operação foram diversas, inclusive a morte de 3 pessoas e o fechamento de unidades de ensino e  de saúde. 

    Por volta de 7h da manhã a operação avançou para as favelas Nova Maré e Baixa do Sapateiro, com relatos de tiroteio e com a chegada de  muitas denúncias pelo Maré de Direitos, projeto da Redes da Maré, que atende a vítimas de violações de direitos. Foram identificadas invasões de domicílio sem mandados judiciais, agressões verbais, ameaças, uma casa incendiada, o uso de gás lacrimogêneo por parte dos agentes do Estado.  

    Após essa série de denúncias, a equipe da REDES DA MARÉ foi até o local de uma das violações para averiguar e mediar a situação e foi recebida com xingamentos e ameaças por parte dos policiais.  Os agentes de segurança pública, com o fuzil apontado, ordenaram que a equipe da REDES DA MARÉ se retirasse do local de maneira extremamente agressiva. No momento em que a equipe estava se retirando, um grupo de policiais atirou na direção da equipe enquanto outro grupo permaneceu na casa dos moradores xingando-os e quebrando seus pertences. Todos os agentes do BOPE estavam com o rosto coberto e sem identificação. 

    Foi também no início da manhã que moradores do Beco da Glória, na Baixa do Sapateiro, presenciaram momentos de terror. Enquanto policiais do Batalhão de Choque circulavam na região, houve registro de tiros sucessivos que atravessaram um prédio onde vivem mais de 3 famílias. Em uma das casas, enquanto duas crianças junto de seus responsáveis tentavam se proteger, um tiro atravessou o fogão próximo ao botijão de gás. Ao saírem da casa, moradores viram o corpo do jovem de 18 anos morto, na frente do prédio. Segundo relato, o jovem foi retirado pelos policiais e levado para o Hospital Geral de Bonsucesso. A mãe do jovem estava no local mas não pode acompanhar o corpo do filho.

    Por volta das 11h um grupo de policiais realizou uma abordagem em um bar na Nova Holanda, onde ordenou agressivamente que o proprietário diminuísse o volume da caixa de som. Prontamente o dono do bar desligou o som. Um dos policiais exigiu que os clientes se levantassem e saíssem, um dos moradores não se levantou e foi agredido com uma cadeira por esse policial. Segundo relatos, o policial quebrou a cadeira na cabeça do morador. Logo após arremessou a cadeira e atingiu uma mulher nas costas que andava com uma criança no colo. 

    A operação teve momentos mais silenciosos ao longo do dia mas com muitos relatos de violação de direitos. Uma das vítimas relata que um grupo de policiais invadiu sua casa e roubou o videogame que seu filho ganhou recentemente no seu aniversário de 7 anos. A mesma vítima relata ainda que os agentes roubaram alimentos como iogurte e biscoitos e demonstra sua indignação ao afirmar que essa prática é recorrente em dias de operação policial.

    Os moradores relatam que em dois casos de letalidade violenta por intervenção policial, os agentes retiraram os corpos já em óbito. Um corpo foi retirado em um lençol e o outro foi colocado em um carrinho de mão. Não tivemos a informação de ter acontecido perícia no local. A terceira vítima foi socorrida por moradores já em óbito. 

    Por volta das 17:30h, quando parecia que a operação policial tinha se encerrado, houve um intenso tiroteio na Nova Holanda, onde quatro pessoas foram baleadas. Uma delas foi socorrida por moradores já em óbito. 

    A operação desta terça foi realizada quatro dias após o lançamento da 4ª Edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, da Redes da Maré, que traz dados sobre os impactos da política de segurança pública da região, assim como os vividos hoje pelos milhares de moradores  das favelas afetadas. Confira a 4ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré: http://redesdamare.org.br/br/info/22/de-olho-na-mare.

    A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou em resposta ao contato do Maré de Notícias que equipes do Comando de Operações Especiais (COE) realizaram a operação com Policiais do Batalhão de Ações com Cães (BAC), do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e o Grupamento Aeromóvel (GAM) utilizando dados de inteligência com o objetivo prender criminosos e combater o tráfico de drogas. Houve confirmação da assessoria sobre um ferido na Nova Holanda. Porém até o fechamento desta matéria não obtivemos retorno sobre a existência de mandados e confirmação sobre os mortos pela PMERJ.

    Leia aqui a nota da Redes da Maré sobre a operação de hoje.

    *Publicado originalmente no portal da Redes da Maré, instituição da sociedade civil que produz conhecimento, elabora projetos e ações para garantir políticas públicas efetivas que melhorem a vida dos 140 mil moradores das 16 favelas da Maré.

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