Inconformada com o resultado do julgamento nesta semana, mãe de Douglas Rodrigues vai recorrer da sentença que inocentou o policial que matou o filho há 3 anos
Era um domingo, 27 de outubro de 2013, quando Rossana Martins de Souza se arrumava para ir a festa de aniversário de um sobrinho. O filho do meio, Diego, iria acompanha-la. O mais velho, Douglas, disse que preferia aproveitar o dia com os amigos. “Eu tinha passado na minha mãe, que fica aqui do outro lado da rua e quando estava quase entrando em casa, o Diego chegou correndo, com os olhos arregalados e disse ‘Mãe, o Douglas levou um tiro’”, relembra a costureira Rossana, na sala de visitas da casa dela que é também o local de trabalho. Ela, aliás, lembra todos os detalhes daquele dia: “Não tem um dia na vida que esqueço do Dodô. E não consigo acreditar e não quero acreditar até hoje que ele morreu daquela maneira. Pelas mãos de um policial”.
Na semana em que a Justiça inocentou o PM Luciano Pinheiro, que disparou contra Douglas, Rossana recebeu a Ponte Jornalismo na casa dela, no Jardim Brasil, a poucas quadras da Rua Bacurizinho, onde o filho foi assassinado. “Eu vou recorrer. No dia que fui me despedir do meu filho, prometi a ele que faria justiça e eu vou até o fim”, afirma. Na decisão, o juiz considerou que uma falha na pistola .40 Taurus, que é a utilizada pela corporação, foi a responsável pelo tiro, para a justiça, acidental.
Atualmente, Rossana afirma que se apega às boas lembranças do filho para seguir em frente. Ela se recorda das camisetas que foram feitas na época do crime, incluindo a que ela estava vestindo no dia da entrevista. “Eu uso as camisetas dele direto, durmo com elas. De alguma forma é um jeito de ele estar sempre perto de mim”, afirma, emocionada. Mais de mil camisetas foram confeccionadas. E teve uma parte delas que foi feita pelas mãos de Rossana. “Quando eu tava costurando as camisetas, era como se eu estivesse preparando alguma coisa para o Douglas. Uma festa surpresa, um bolo. Não é porque ele não está mais aqui que eu não vou cuidar mais dele. Essa camiseta é uma forma de continuar, de dar um pouquinho mais de ânimo para conseguir ficar de pé”, relata.
Rossana mostra com carinho um álbum de fotos que confirma o discurso dela: de que Dodô, como ela o chamava, era um menino sorridente e vivia cercado de amigos. Também faz questão de mostrar a placa que foi feita a partir de um grafite, assinado pelo Bonga, que ficou por quase dois anos no muro da rua Bacurizinho. Quando o terreno foi vendido, o muro teria que ser pintado. Foi então que um pastor da Assembleia de Deus Semeando a Palavra e moradores da rua tiveram a ideia de eternizar a arte em uma placa. “O muro tinha uma história e essa história não poderia ser apagada”. No grafite, o trecho de um famoso salmo: “Ainda que eu andasse pelo vale da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo”. Rossana diz que considera o texto lindo e que tem fé em Deus, mas admite que depois que o filho partiu, nunca mais entrou numa igreja.