Após agressões, moradores de Jaceguava, Parelheiros, extremo sul da cidade de SP, foram a delegacia denunciar anos de abusos que teriam sido cometidos pelo vizinho policial
Um homem de 49 anos foi baleado e o filho dele, de 28, agredido por um policial militar na comunidade Jaceguava, em Parelheiros, no extremo sul da cidade de São Paulo, na segunda-feira (17/2). O caso aconteceu na frente da casa do sargento da PM Nick Lazur, que afirma ter feito os disparos porque suspeitou que pai e filho estavam invadindo a casa dele.
“Não é verdade isso. Ninguém invadiu nada, nem daria para pular aquele muro e aquele portão. Foi excessiva a ação dele, com certeza. Os moradores vieram me pedir ajuda porque sabem que eu não estou deixando quieto o que a comunidade sofre há anos”, afirmou o analista de segurança da informação Anderson Carvalho, 34 anos, testemunha das agressões. Ele mora a 50 metros do policial e já teria sido também ele uma vítima da violência de Nick, segundo relatou à Ponte.
“Em 2017, tivemos problemas com ele quando minha família comprou terreno e começou a construir. Esse Nick foi com outros policiais em casa e chegou a bater no meu pai”, afirma Anderson.
A Ponte tentou contato com as vítimas da agressão, mas não conseguiu. O homem baleado foi atendido no Hospital Balneário e já recebeu alta. Anderson reforça que não houve invasão e que o sargento agrediu o vizinho de 28 anos apenas porque estava perto da entrada da casa. O pai da vítima tentou intervir e acabou atingido por ao menos três disparos.
Moradores chamaram a polícia e gravaram pelo celular a indignação diante da agressão. “Esse policial atirou no meu tio, não é para atirar em pai de família”, grita uma mulher. As imagens, feitas na hora da ocorrência, estão escuras, mas é possível ouvir os gritos de: “não foi a primeira vez”, “todo mundo aqui está cansado de você” e “aqui não tem bandido, seu covarde”.
Anderson afirmou que, se chamasse 60 pessoas do bairro, todas elas teriam algo a dizer do policial e que, até então, nenhum registro de ocorrência havia sido feito por medo. “Tem muita gente humilde aqui que sempre teve medo dele, porque é um policial, armado, fala bem. Ele mora na região e faz patrulha na própria região. É complicado. Mas eu decidi fazer alguma coisa porque acredito que é esse medo que alimenta essa atitude”, explicou.
No boletim de ocorrência, registrado no 101º DP (Jardim Imbuias), pelo menos nove moradores relataram histórico de ameaças e até violência envolvendo o PM. Um dos relatos, de 2015, é de uma jovem que afirma que estava num bar com uma amiga, quando Lazur chegou e, em tom ameaçador, perguntou o que elas estavam fazendo no local.
Uma outra vítima, também moradora do bairro, relatou que, no ano passado, estava aguardando uma carona na frente de sua casa, quando o PM teria passado e dito: “pessoas como você têm que morrer”. Um outro rapaz afirmou que o sargento o ameaçou caso passasse na frente da casa dele.
Em 2017, um morador também afirma ter sido abordado e humilhado por Nick. O PM, segundo o relato registrado no B.O., teria jogado a moto do rapaz no chão e disse que iria matá-lo caso ele passasse em frente ao portão da casa dele.
À Polícia Civil, o PM Nick Lazur negou todas as acusações quando “ouvido informalmente” e deixou a delegacia ciente do registro da ocorrência. As denúncias de outras violências que teriam sido cometidas pelo PM em outras oportunidades, ainda conforme registrado no B.O., não podem ser mais objeto de investigação, porque são antigas.
“Eu estive na Corregedoria da PM nesta terça-feira [18/2] e fui orientado a levar as vítimas no órgão pelo próprio delegado que fez o registro da ocorrência. E eu vou fazer isso. Vou até o fim”, concluiu Anderson.
Outro lado
A Polícia Militar, em nota, deu a mesma versão informada pelo PM no boletim de ocorrência: que três suspeitos teriam pulado o portão da casa do policial, que “atirou contra os invasores”. “O local foi periciado e a ocorrência foi encaminhada ao 101º DP (Jardim Imbuias). Agora, a Polícia Civil prosseguirá com as investigações e a Polícia Militar irá acompanhar o caso”, diz a nota.
A Ponte pediu entrevista com o sargento Nick Lazur via Secretaria de Segurança Pública de SP e tentou contato pela sua conta do Instagram, mas, até a publicação da reportagem, não havia retorno da solicitação.