‘Pai, fala para eles parar’: o grito de uma criança ao ver PM espancar jovem algemado

    Vídeo mostra quando um grupo de policiais chuta rosto de entregador imobilizado e baleado em Goiânia (GO); Polícia diz que ele estava armado

    Policiais militares espancaram um entregador de farmácia, de 19 anos, na noite desta segunda-feira (30/3) no Setor Morada do Sol, região noroeste de Goiânia (GO). Um vídeo gravado por uma testemunha mostra quando quatro policiais chutam várias partes do corpo do rapaz, que está caído no chão, inclusive o rosto. Os golpes continuam mesmo depois que o jovem é algemado.

    No início do vídeo, que tem pouco mais de um minuto, a vítima, de camiseta vermelha, está deitada na rua com um capacete de motociclista e é espancada com chutes. Em seguida, um dos policiais retira o capacete e a sessão de chutes continua.

    Enquanto o entregador é agredido, uma voz de criança grita para os policiais pararem. “Chega! Chega! Chega moço! Pai, fala para eles parar!”. Em resposta, uma voz masculina diz: “Eu já falei, meu filho!”.

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    Após ser agredido, o entregador de farmácia, que também foi baleado, foi encaminhado para o Hospital de Urgências da Região Noroeste (Hugol) e para a Central de Flagrantes da Polícia Civil, segundo o delegado Dakir Specht, que atendeu os policiais e o jovem.

    De acordo com Dakir, o motivo da ocorrência foi porte ilegal de arma de fogo. Até o início da madrugada desta terça-feira (31), o delegado afirmou que não tinha conhecimento do vídeo mostrando o espancamento.

    Segundo a versão dos policiais, repassadas para Dakir, a ocorrência começou quando os PMs escutaram disparos de arma de fogo e teriam avistado o rapaz em uma motocicleta colocando um revólver na cintura. Os policiais teriam então começado a seguir a moto, mas o jovem não teria parado mesmo com as sirenes das viaturas ligadas.

    “Após tempo de acompanhamento, ele perdeu equilíbrio e caiu no chão. Segundo os policiais militares, no momento que ele caiu no chão, ele levou a mão dele até a cintura, esboçando sinais de reação, momento em que os policiais deferiram dois disparos em direção a ele”, relata o delegado. Um tiro pegou na perna do jovem e o outro feriu de raspão o tórax.

    De acordo com Dakir, o entregador tem uma passagem policial por roubo, mas ele não soube precisar a data dessa passagem. Um revólver calibre 32, da marca Taurus, foi entregue para a Polícia Civil como sendo do rapaz. A arma tinha três balas inteiras e três deflagradas, já utilizadas.

    Policiais flagrados chutando trabalhador | Foto: Reprodução

    A defesa do jovem nega que ele estivesse armado. Segundo um familiar, que prefere não se identificar, o rapaz é entregador de uma farmácia e havia saído do trabalho às 22 horas. “A chave dele está suja de sangue, ele estava de uniforme, de crachá. Não houve tiro, muita gente filmou. Ele está com a cara toda cheia de rastro de botina”, relata um familiar do rapaz, que o acompanhou na delegacia.

    No início da madrugada, o jovem foi levado para o Instituto Médico Legal (IML), onde é feito o exame de corpo de delito, que pode confirmar o resultado das agressões. O advogado do rapaz informou que não pode entrar junto com o cliente para fazer o exame, mas segundo ele, isso seria de praxe. Apenas os policiais teriam entrado no IML com o rapaz.

    Questionado sobre o vídeo que mostra o jovem sendo espancado, o delegado Dakir Specht esclareceu que ainda não tinha tido acesso à gravação. O entregador ainda não havia sido ouvido formalmente até o início da madrugada.

    “Se comprovado, essa questão do excesso, do abuso, pode haver responsabilização dos policiais, mas a princípio, não muda essa questão dele estar portando ilegalmente arma de fogo”, explicou Dakir.

    O que diz o governo

    A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que, “durante ocorrência de acompanhamento, o suspeito, que já possui passagens por roubo”, foi “detido em flagrante e autuado” por direção perigosa e porte ilegal de arma. “Em relação ao vídeo, informa que foi instaurado através da corregedoria Inquérito Policial Militar para apurar os fatos”, afirma a nota.

    Reportagem originalmente publicada em O Popular

    Atualização em 1/4, às 12h, para inserir o posicionamento da Polícia Militar

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