O ato chamado “Panelaço da Periferia”, que fechou o Terminal João Dias por 15 minutos, reclamou por mais direitos e pela redução na tarifa do transporte coletivo
Cerca de mil e quinhentas pessoas, em sua maioria integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), marcharam no início da noite da última quinta-feira (22/1), por avenidas da zona sul da capital, por mais direitos, inclusive, pela redução na tarifa de transportes coletivos municipais e estaduais. O ato chamado “Panelaço da Periferia”, que fechou o Terminal João Dias por 15 minutos, veio a “somar” aos encontros articulados pelo MPL (Movimento Passe Livre).
Para a coordenadora nacional do MTST Ana Paula Ribeiro, de 31 anos, o aumento influencia diretamente na mesa e no dia a dia das famílias. “Viemos para falar que não foi só a tarifa do ônibus que subiu. Tem luz, água. O salário do trabalhador não sobe e os aumentos recaem direto no bolso do trabalhador”.
A manifestação saiu por volta das 18h20 dos baixos da estação Vila das Belezas (linha 5 lilás, do Metrô) e contou com forte aparato policial (nos cálculos da PM 50 homens. A reportagem contou quase o dobro), que usou da técnica de envelopamento, se alinhando ao lado esquerdo dos participantes da marcha. Durante o trajeto, que durou pouco mais de meia-hora e bloqueou vias como a as avenidas Carlos Caldeira Filho e Giovanni Gronchi, os manifestantes cantaram músicas que pediam a redução do preço da passagem e o tradicional grito do MTST “pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga, não atiça o formigueiro”.
Na chegada ao terminal, uma desinformação entre os batalhões que participavam do ato gerou um impasse sobre a entrada ao local. Escoltados por PMs do 16°BPM durante a maior parte do trajeto, a segurança do ato passou a ser feita pelo 1°BPM nas dependências do terminal.
Após conversa entre as lideranças e o comandante da ação, os trabalhadores deram uma volta completa no terminal, que foi aplaudida por alguns populares e criticada por outros, que gostariam de ir para casa. “É um direito, não posso impedir que entrem. A entrada está liberada para dar uma volta e sair”, disse o tenente Marques.
Na periferia, as balas não são de borracha
Na saída do terminal, a reportagem pode contar cerca de 20 viaturas e 50 PMs perfilados, formando um cordão de isolamento e mais dois carros da GCM. Entre as viaturas recém-chegadas, metade eram da Força Tática.
Um homem passou pela reportagem e disse: “não sei para que tudo isso” e “na periferia, as balas não são de borracha”. De fato, a reportagem notou apenas um policial militar portando armamento não letal, empunhando uma escopeta municiada com balas de borracha. Porém, um outro PM portava uma submetralhadora presa a uma bandoleira.
Dentro do terminal, algumas pessoas se juntaram aos sem-teto e pediram a redução da passagem, mas muitos rostos de resignação com o que acontecia também puderam ser notados. A telefonista Karina Santos, de 26, era uma delas. Moradora do Jardim Horizonte Azul, esperava o terminal ser liberado para ir para casa, após um dia de trabalho. “Não vai reduzir o valor condução. Isso não adianta. Está me atrasando para chegar em casa”, finalizou.
Para o revisor de conteúdo Danilo Cardoso, de 29 anos, o que falta na periferia é mais comunicação. “A segurança é péssima. Alguém deu a ordem para ter tudo isso de PM. A polícia não vê com bons olhos nem os manifestantes e nem os jornalistas”.
Sem confronto, o ato se dispersou pacificamente às 20h. “Nossos atos são pacíficos porque medimos a responsabilidade. Temos crianças e idosos, além de pais de família. Atos violentos não são o nosso sentimento. O MTST terá novos atos, este foi apenas o segundo (em 2015)”, afirmou Ana Paula para a reportagem da Ponte.