‘Pardos brasileiros são todos mau caráter’, diz conselheiro do Santos FC

    Em áudio, Adilson Durante Filho, o Adilsinho, recomenda a amigos que ‘tem que desconfiar de todos os pardos’; Santos repudia discriminação e vereadora cobra exoneração de cargo na Prefeitura de Santos

    O conselheiro do Santos e secretário adjunto de Turismo da cidade, no litoral de São Paulo, Adilson Durante Filho (PSD), conhecido como Adilsinho, afirmou em áudio enviado para amigos que “os pardos brasileiros são todos mau caráter”. A fala, compartilhada nas redes sociais, fez com que o clube se posicionasse contra qualquer tipo de preconceito e que uma vereadora cobrasse a exoneração do cargo que ele ocupa na Prefeitura.

    “Aqui estamos entre amigos. Sempre que tiver um pardo, o que é? Não é aquele negão, nem aquele branquinho, o moreninho. Esses caras, tem que desconfiar de todos que você conhecer. Essa cor é a mistura de uma raça que não ter caráter. É verdade, isso é estudo”, diz Adilsinho na mensagem de áudio, complementando. “Todo pardo, todo mulato tu tem que tomar cuidado. Não mulato tipo o Pedro, ele é tipo pra índio, tipo chileno, essas porra, estou dizendo o mulato brasileiro, entendeu? Os pardos brasileiros são todos mau-caráter, não tem um que não seja”, encerra o conselheiro do Santos.

    Além de ativo no clube santista e da secretaria de turismo, Adilsinho é responsável pelo marketing da Fupes, fundação responsável por gerenciar o esporte de alto rendimento da cidade de Santos. Está neste cargo ao menos desde 2017, conforme expõe em sua página no Linkedin (rede social voltada para a vida profissional).

    Com a repercussão da fala, Adilson divulgou uma nota de esclarecimentos dizendo que o áudio é “de alguns anos” e foi enviado para amigos no WhatsApp e nega ter preconceitos. “Gostaria de expor que, em um momento de infelicidade e levado pela emoção, em decorrência de um fato que muito me abalou, acabei me expressando de forma absolutamente diversa das minhas crenças e modo de agir”, argumenta diretor da Fupes.

    Adilsinho, que não atendeu aos contatos da Ponte, continua explicando que “jamais teve a intenção de atingir quem quer que seja” e ainda justifica que “até porque assim me manifestei em um pequeno grupo de supostos amigos de WhatsApp”. “Consigno que não tenho qualquer preconceito em razão de cor, raça ou credo, pois minha criação não me permitiria ser diferente. Peço, humildemente, desculpas a todos que se sentiram ofendidos, e expresso, por meio deste comunicado, meu mais profundo arrependimento quanto às palavras genericamente proferidas”, finaliza.

    As falas geraram nota de repúdio do próprio Santos F.C., o qual ele faz parte do quadro de conselheiros. “Temos orgulho da nossa história construída em 107 anos de existência por ídolos negros, pardos, brancos e seres humanos de todas as etnias. Brasileiros, somos produto da miscigenação. Santistas, vamos continuar lutando pela paz do nosso branco e pela nobreza do nosso preto, cores eternamente entrelaçadas em nossa história”, diz o clube.

    A nota ainda traz exemplo de um time “mágico de Pelé, Pepe, Coutinho, Zito e tantos outros gênios do futebol espalhou aquela maravilhosa imagem de brancos e negros se abraçando para comemorar gols que encantavam o mundo”. “É muito triste que tantas décadas depois tenhamos de vir a público reafirmar nosso absoluto repúdio a qualquer forma de discriminação e racismo”, afirma.

    Além da nota, outros conselheiros do Peixe (apelido com o qual o Santos é conhecido) pedirão a expulsão de Adilson Durante Filho do clube. Ele já ocupou os cargos de diretor de categorias de base e também diretor de futebol. A vereadora Telma de Souza entrará com processo pedindo sua exoneração da diretoria de marketing da Fupes e também da secretaria de Turismo.

    Adilsinho, cartola do Santos F. C. | Foto: Divulgação

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