Parentes de presos de duas prisões onde houve rebelião em SP denunciam retaliação

    Em Tremembé e Porto Feliz, que tiveram instalações incendidas, relatos indicam que presos estão sem água, alguns sem colchão e há racionamento de comida

    Instalações do Centro de Progressão Penitenciária de Tremembé foram incendidas durante rebelião da segunda-feira (16/3) | Foto: Arquivo Ponte

    Familiares de presos que cumprem pena no CPP (Centro de Progressão Penitenciária) de Tremembé, a 133 quilômetros de São Paulo, denunciam que eles estão sem comida e água desde o fim da rebelião feita na segunda-feira (16/3). Relatos sobre o CPP de Porto Feliz, também palco de motim e fuga no início da semana, indicam situação semelhante.

    Por lá, colchões queimados não foram repostos e também falta água, segundo a mulher de um preso, que pediu para não ser identificada por temer represália.

    As notícias de Tremembé foram repassadas por parentes nesta quarta-feira (18/3), que estiveram na frente do presídio para obter mais informações após a rebelião, e conseguem escutar os gritos dos presos. Elas, então, usam grupos de WhatsApp que reúnem familiares de encarcerados para passar informações adiante. Elas acreditam que há represália ao motim da última segunda-feira.

    Segundo essas familiares, as queixas são de que não há a entrega de alimentos nem a liberação de água para os detentos desde o fim da rebelião em Tremembé.

    “A ala 2 está totalmente destruída e eles estão todos aglomerados na ala 1. O que soubemos é que ate hoje receberam um pão com salsicha e água para beber. E todos estão sem roupa”, afirma a esposa de um detento do CPP de Porto Feliz.

    A SAP-SP (Secretaria de Administração Penitenciária de SP) informou, em nota, que parte das unidades de Tremembé e Porto Feliz foram destruídas e que não há condição de manter detentos nesse espaço. Em nota, a pasta informou que os presos que não fugiram estão sendo mantidos em espaços onde há “condições de habitabilidade” e os recapturados forma transferidos para unidades prisionais do estado e perderam o benefício do semiaberto. Ao todo, mais de 1.300 presos fugiram durante a rebelião.

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    A suposta interrupção no fornecimento de água ocorre em meio à pandemia do novo coronavírus, doença altamente contagiosa e que tem na higiene um de seus principais métodos preventivos. Ao longo de aproximadamente 36 horas, conforme a denúncia, os homens também não tiveram luz no período noturno.

    As mulheres explicam que um dos motivos para a rebelião ter acontecido é suspensão das saidinhas, uma das decisões do governo para combater a disseminação do coronavírus no sistema prisional.

    A última contagem da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), administrada pelo coronel Nivaldo Restivo neste governo de João Doria (PSDB), aponta que Tremembé I possui 2.084 presos para a capacidade de 1.284 pessoas, enquanto a unidade II, de progressão de regime, tem 368 homens em espaço para 408.

    Há denúncias também de falta de informações por parte da direção do CPP de Tremembé sobre a situação dos presos. “Estou até agora sem notícias do meu filho. Já liguei mais de oitenta vezes mais os agentes não atendem”, reclamou uma mulher em entrevista à Ponte.

    Ela explica que o filho está desde novembro em Tremembé, mas não sabe se ele continua na unidade, se foi transferido ou se fugiu junto do grupo de 218 presos na rebelião de segunda-feira.

    Por telefone, a assessoria de imprensa da SAP negou que os presos estejam sem comida e sem água em Tremembé. No entanto, a pasta não se posicionou oficialmente em relação aos questionamentos feitos pela Ponte.

    Sobre a situação em Porto Feliz, a pasta informou, em nota, que a denúncia não procede, mas admitiu que parte da unidade foi danificada. “[Foram causados] danos causados em áreas prediais, mobiliária, documentais e de informática, e os funcionários estão focados em restabelecer rapidamente a unidade e propiciar um ambiente prisional seguro para todos”.

    Em outro trecho da nota, informa que as três refeições diárias estão sendo servidas. “A comida é balanceada e segue cardápio previamente estabelecido e devidamente elaborado por nutricionistas, com cereais, carne bovina, carne de frango, macarrão, feijão, frutas, legumes e verdura”.

    Morte em Mauá

    Em outra unidade, no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Mauá, na Grande São Paulo, dois homens morreram após suposta troca de tiros com a PM. Eles teriam atacado o portão de entrada da unidade com três disparos. O caso foi denunciado pelo Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo).

    Conforme nota da SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), gerida pelo general João Camilo Pires de Campos, a dupla estava com um terceiro homem, que fugiu a pé após o ataque. Os dois teriam atirado e morrido no confronto.

    O 6º DP de Santo André, cidade vizinha a Mauá, investiga a ocorrência, registrada como roubo de veículo, disparo de arma de fogo, resistência, morte decorrente de intervenção policial, legítima defesa, localização de veículo e de objeto, conforme informado pela SSP.

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