Operação policial danifica única fonte de sustento de morador local. Polícia afirma que fazia uma incursão para combater o tráfico na comunidade
Um caveirão da polícia do Rio de Janeiro danificou um carrinho de pipoca de um comerciante em ação na Favela de Acari, localizada no bairro de mesmo nome, no Rio de Janeiro. Os policiais do 41º batalhão, em Irajá, fizeram uma operação no último dia 25 de novembro, quando o veículo atingiu a fonte de sustento de Luis, cujo sobrenome será mantido em sigilo à pedido da fonte.
“Eu tinha aquele carrinho desde 1995. Os vidros foram quebrados, a lateral ficou amassada e as rodas foram totalmente inutilizadas”, comentou o ambulante, à Ponte. Luis, pipoqueiro conhecido de toda a comunidade há mais de 25 anos, avalia suas perdas em aproximadamente 300 reais mais o que ele deixou de faturar a cada dia. Atualmente a venda de pipoca é sua única fonte de renda.
A moradora Adriana, filha do comerciante, explicou o ocorrido. “Assim que eles (policiais) entraram, meu pai precisou deixar o carrinho encostado no meio fio e correr para se proteger dos tiros. Os policiais não tiveram a menor preocupação com quem ou o quê que estava no caminho”, lamenta-se.
O homem, que mora há mais de quarenta anos na comunidade, contou ainda que não recebeu qualquer pedido de desculpas por parte da Polícia Militar, que foi procurada pela reportagem para explicar a natureza da diligência. Segundo a assessoria de comunicação da PMERJ, os policiais do 41°BPM estiveram “em operação contra o tráfico de drogas, apreendendo drogas e armas no local conhecido como Rua Piracambú”. A rua citada pela nota é adjacente à travessa onde estava o carrinho de pipoca do comerciante.
De acordo com dados do aplicativo Fogo Cruzado, a Favela de Acari foi palco de pelo menos dez tiroteios nos últimos dois meses, média superior a um por semana. Contudo, os números não dizem tanto quanto os moradores que presenciam recorrentemente essas ações. Buba Aguiar, militante do coletivo Fala Akari, relata o pânico que essas operações causam, em especial nos mais novos. “Tem crianças que, com tanta operação, desenvolvem crises nervosas. A favela é um local muito feliz e alegre, mas eles (PMERJ) conseguem abafar tudo isso com essas incursões”, diz.
Para o coordenador do Defezap Guilherme Pimentel, o morador tem direito a ser indenizado pelo Estado, inclusive pelos dias que deixou de trabalhar. “Qualquer pessoa que tenha o patrimônio destruído pela polícia têm esse direito”, afirmou, reiterando que Luís precisa juntar documentação do item danificado e procurar assistência jurídica – seja particular ou através da defensoria pública – para entrar com uma ação de indenização.