PM agride alunos com cassetetes e gás pimenta em escola de Santos (SP)

    Escola chamou PM para retirar aluno que havia discutido com coordenadora, o que revoltou estudantes. Após exposição nas redes, estudante foi expulso e perdeu emprego

    Uma discussão banal entre a coordenadora pedagógica de uma escola pública e um representante de classe, em Santos, no litoral de São Paulo, levou a direção da Escola Estadual Neves Prado Monteiro a chamar uma viatura da Polícia Militar para retirar o aluno da sala de aula, nesta quarta-feira (9/5). A atitude revoltou outros estudantes, que saíram em defesa do colega. Em resposta, a PM usou gás de pimenta e golpes de cassetete contra os adolescentes.

    O menino retirado da escola, M., um adolescente de 17 anos, contou à Ponte que o incidente começou quando a coordenadora pedagógica foi até uma sala de aula perguntar a respeito de uma aluna que vinha faltando repetidas vezes. M., que atua como representante de classe, eleito por seus colegas, respondeu que a menina nunca vinha e que suspeitava que ela estivesse com depressão. “Eu falei sério, mas alguns colegas riram. A coordenadora se irritou e pediu que eu fosse até a diretoria por isso”, conta.

    A coordenadora chamou mais três funcionários para exigir que o aluno fosse à diretoria, mas ele se recusou. Diante do impasse, a direção da escola achou que era uma boa ideia chamar a polícia. E foi o que fez. Minutos depois, a chegada de uma viatura policial revoltou os estudantes.

    aluno agredido policia
    Adolescente imobilizado por PMs dentro da sala de aula | Foto: arquivo pessoal

    “A presença da polícia não intimidou ele, que continuou se negando a sair. Foi onde os policiais usaram a força e o abuso de poder para retirar ele, sendo muito agressivos. Nós, colegas de classe, não permitimos e fomos tentar separar”, contou à reportagem um dos alunos da Neves Prado.

    ‘Vamos te picotar na faca na delegacia’

    M. conta que os policiais militares pediram que todos os alunos saíssem da sala, mas metade deles ficou, em apoio ao colega. Quando os policiais tentaram algemar M., parte dos estudantes foi para cima dos PMs, que reagiram com golpes de cassetete e spray de pimenta. “Teve gente que desmaiou e vomitou com o gás”, relata. Um estudante ouvido pela Ponte mostrou marcas de agressões que, segundo ele, foram feitas pelos policiais.

    Estudante mostra ferimentos que teriam sido feitos por policiais | Foto: arquivo pessoal

    Depois de expulsar os outros estudantes, quatro policiais ficaram a sós com M. na sala de aula. Nesse momento, segundo ele, foi imobilizado, agredido e ameaçado. “Se te encontrarmos na rua nós vamos te levar todas as vezes, vamos te picotar na faca na delegacia”, teria dito um PM.

    O adolescente foi levado à Delegacia da Infância e Juventude de Santos, onde foi alvo de um termo circunstanciado (registro de ocorrência para crimes de menor gravidade) por desacato, ameaça, desobediência, resistência e lesão corporal — contra os policiais. Já os adolescentes denunciaram as agressões ao Conselho Tutelar.

    Solução da escola: promover ‘cultura de paz’

    A direção da Escola Estadual Neves Prado Monteiro atribuiu a responsabilidade da violência a M. e, na manhã desta quinta-feira (10/5), numa reunião com o menino e seus pais, comunicou sua expulsão, segundo M. E não foi apenas a escola que o menino perdeu. Depois que a história foi parar nas redes sociais, M. foi demitido da lanchonete onde trabalhava. Ele acredita que tudo poderia ter sido resolvido de outra forma e afirma estar arrependido: “Queria pedir desculpas pra inspetora, pra vice-diretora e a todos os alunos que se feriram”.

    Procurada pela Ponte, a escola disse que não comentaria o assunto. Em nota, a Diretoria Regional de Ensino de Santos, da Secretaria Estadual da Educação, da gestão Márcio França (PSB), “tomou todas as medidas pedagógicas cabíveis e convocou os pais do aluno para reunião”, sem mencionar a expulsão do estudante. “O Conselho Tutelar da cidade será comunicado para que as medidas legais sejam tomadas e serão realizadas atividades restaurativas e de promoção à cultura de paz no ambiente escolar”, diz a nota.

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas