Vídeo: PM agride adolescente no trabalho em Piracicaba (SP): ‘Meu filho está com medo de sair’

    PM deu soco e ameaçou jovem negro de 17 anos no local em que ele trabalhava, sem perguntar seu nome ou pedir documento. Policiais são do mesmo batalhão que matou jovem negro que protegia esposa grávida de agressão

    Um policial militar foi filmado em Piracicaba, no interior de São Paulo, dando um soco no rosto de um adolescente negro de 17 anos ao, aparentemente, confundi-lo com outra pessoa durante uma abordagem no último sábado (12/4).

    O PM puxou o jovem para fora do local em que ele trabalhava e passou a interrogá-lo como se já se conhecessem, mesmo com a vítima negando saber do que se tratava. “A gente invadiu a sua casa na semana passada. Você tá querendo levar uma com nóis [sic]?”, teria dito o agente antes da agressão.

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    O caso ocorreu em frente a uma adega no bairro Piracicamirim, por volta das 16h30. O adolescente havia acabado de chegar ao local para fazer um bico, após ter cumprido expediente no horário do almoço em um restaurante. Ele cursa o ensino médio durante os dias úteis e, aos finais de semana, faz trabalhos informais para os dois estabelecimentos, para ter o próprio dinheiro.

    A Ponte ouviu a mãe do adolescente. A família não quis se identificar, por medo de retaliação dos policiais. No início do mês, Piracicaba teve um caso também protagonizado por agentes do 10º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPM/I) em que um jovem negro foi morto a tiros ao tentar proteger a esposa grávida de quase oito meses das agressões de um policial — desde então, viaturas tem rodado com maior frequência pela vizinhança do ocorrido e até o advogado que atua no caso foi intimidado pela PM.

    Sem sequer perguntar nome ou pedir documento de adolescente, PM passou a interrogá-lo como se já o conhecesse, mesmo com vítima negando | Foto: Reprodução

    Policial agrediu sem sequer perguntar nome da vítima

    O agressor do episódio mais recente de violência policial em Piracicaba chegou à adega junto de uma outra policial e mandou que o adolescente saísse para a calçada, segundo conta a mãe da vítima: “É você mesmo, ‘jhow’, sai lá para fora”. Sem entender o que ocorria, o jovem retrucou: “Eu?”. O PM passou então a acusá-lo: “Você tava rindo da nossa cara quando a gente passou [sic]”.

    A vítima tentou se defender, afirmando que sequer tinha visto os policiais e que apenas conversava com os amigos que também trabalham no local. A outra policial reforçou a ordem: “Vai, seu filho da puta, sai lá para fora”. Ainda segundo a mãe, o adolescente saiu e tentou se manter junto a uma porta de vidro, que permitia que fosse visto pelas pessoas presentes dentro do estabelecimento. O policial puxou ele então para o lado, restringindo a visão, e passou a contestá-lo, sem perguntar o nome do jovem ou solicitar seus documentos pessoais. “Você lembra de nós, seu arrombado?”, teria dito também o agressor.

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    Após sofrer o soco no rosto, em cena registrada por uma câmera de segurança [veja no vídeo acima], o adolescente ficou atordoado, sem entender o que os policiais seguiam lhe dizendo. Os dois agentes foram embora segundos depois. Já o jovem abriu mão do “bico” e voltou para casa aos prantos. A mãe diz que, desde então, ele tem medo de voltar a trabalhar e até de ir para a escola, já que o PM teria o ameaçado de novas agressões caso o encontrasse novamente na rua.

    “Os policiais só não bateram mais nele porque tinha um pessoal ali na rua que começou a gritar para parar. Mas o policial disse que, quando encontrasse ele, iria dar um pau nele. E o meu filho disse: ‘Senhor, o senhor está me confundindo com outra pessoa, o senhor nunca entrou na minha casa'”, diz a mãe.

    Mãe diz que filho quer paz para trabalhar

    Para a familiar, o caso ainda poderia ter sido pior: “Imagina se a pessoa que eles estavam procurando e que confudiram com o meu filho tivesse feito alguma coisa pior? Eles teriam tirado a vida do meu filho por uma bobagem, por uma abordagem mal feita”, diz. “Meu filho nunca fez nada de errado. Criei ele para ser uma pessoa honesta, tanto que ele está correndo atrás do dinheirinho dele honestamente.”

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    A família levou o caso à Corregedoria da PM e também registrou um boletim de ocorrência (BO). Até agora, no entanto, não houve contato da Polícia Militar de Piracicaba — sob comando do tenente-coronel Marcelo Henrique de Lima. “A gente só quer paz, só quer que o meu filho possa trabalhar tranquilo, porque ele está com medo. Só queremos trabalhar honestamente, como sempre fizemos, e termos, no mínimo, um pedido de desculpas, porque meu filho foi agredido covardemente.”

    A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) se os policiais envolvidos na ocorrência foram identificados, se foram afastados e se são alvos de apuração administrativa. Em resposta, a pasta encaminhou uma nota assinada pela PM: “A Polícia Militar ressalta que a conduta dos policiais envolvidos na ação não condiz com os protocolos operacionais da instituição, razão pela qual foi instaurado um procedimento para apurar os fatos e adotar as medidas legais e administrativas cabíveis”.

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