Agressão aconteceu na frente de uma escola estadual e foi gravada por alunos; ‘fiquei com trauma da polícia’, afirma vítima de 15 anos
Um soldado do 33º Batalhão da Polícia Militar de São Paulo foi afastado das ruas após agredir um estudante de 15 anos em frente a Escola Estadual Edgard de Moura Bittencourt, em Carapicuíba, Grande São Paulo, na quarta-feira (3/10).
Dois dias antes, L.A., 15 anos, colocou o pé na frente do filho do policial, de 12 anos, para que ele caísse propositalmente. O pai então decidiu ir fardado até a saída da escola para tirar satisfação e resolver por conta própria o caso.
Um vídeo feito por uma testemunha registra o momento em que o soldado põe o adolescente contra a parede e depois dá um soco no abdômen do estudante. Uma coordenadora da escola ainda tentou evitar a agressão, que foi também presenciada pelo filho do policial.
“Fiquei com trauma da polícia pelas agressões físicas e verbais. Nunca pensei que aconteceria comigo tal coisa”, diz o jovem agredido. “Ele [o policial] deixou a pior arma do ser humano naquele momento, o ego, deixou a farda subir a cabeça”, desabafa.
De acordo com o advogado e Coordenador da Comissão da Infância e da Juventude do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Ariel de Castro Alves, a conduta do agente público é inaceitável. “Nenhum policial pode usar o cargo e função para cometer vingança. Não cabe a ele promover vingança com ninguém. Adulto interferir em conflitos de adolescentes ou de crianças é covardia e arbitrariedade”, explica.
Para o advogado, o caso pode ser entendido como abuso de autoridade, que pode gerar até seis meses de detenção e demissão do serviço público, além do crime de ameaça. “O adolescente vai ficar com sequelas do ato abusivo e arbitrário deste mau policial, que usa suas funções para favorecer-se pessoalmente da função pública”, afirma Ariel. Até mesmo o filho do PM pode sofrer com o caso, segundo o coordenador do Condepe. “O ato abusivo do pai gerou revolta entre os demais alunos e o filho dele pode ser alvo de retaliações”, analisa.
A agressão aconteceu em frente a uma escola localizada em região periférica da Grande São Paulo e acaba entrando no rol de casos recorrentes de violência policial contra jovens da periferia. “O problema é que temos um enorme desafio entre o treinamento e a discricionaridade do policial na ponta que, no limite, faz o que quer”, analisa a diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.
Samira demonstra preocupação com relação aos planos dos candidatos ao governo de São Paulo e avalia que a violência policial pode piorar nos próximos anos. “Os principais candidatos destas eleições, com chances reais de vitória, como João Doria e Paulo Skaf, têm verbalizado que querem uma polícia mais violenta”, afirma.
Outro lado
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Militar do Estado de São Paulo diz que não compactua com desvios de conduta por parte de seus integrantes e que o comportamento não condiz com o padrão da Instituição. Ainda afirma que um Inquérito Policial Militar foi instaurado no 33º BPM (Batalhão da Polícia Militar) e que o PM foi afastado das ruas.
Já a Secretaria Estadual da Educação informou que os responsáveis pelos alunos foram chamados até a escola e o Conselho Tutelar será acionado para acompanhar o caso.