Vídeo mostra momento em que o policial grita com a mulher e a agride no rosto, na Avenida Beira-Mar, na capital cearense
Vídeo que circula nas redes sociais mostra um policial militar agredindo uma mulher que falava com ele, na avenida Beira-Mar, uma das mais movimentadas de Fortaleza (CE), na noite deste domingo (30/04). O policial é capitão do Batalhão de Patrulhamento Turístico.
“Fale baixo, porra!”, berra o PM, que, na sequência, desfere um tapa forte no rosto da mulher, que fica paralisada, com a face vermelha, em choque diante da violência do policial. Ele estava com outro policial, que assistiu à cena impassível, sem intervir em defesa da vítima.
Para a professora e integrante do Comitê Cearense pela Desmilitarização da Polícia e da Política, Ana Vladia, a cena reflete um modelo de segurança pública no qual policiais são formados para a violência. “É um gesto que reflete como a polícia é formada para a violência, treinada com violência e para a agressão, para a humilhação e, no limite, para o extermínio. Isso não é nenhum exagero. A corporação age com um modus operandi de estado de sítio de modo permanente. Se ela faz isso na Beira-Mar, ponto turístico, com dezenas de pessoas olhando, imagina o óbvio, o que ocorre nas periferias”, critica.
“Ela reflete enquanto força de Estado e, portanto, num grau muito potencializado, as mazelas que temos enquanto sociedade brutalmente hierarquizada e com limites óbvios para exercer a democracia. Por isso ela reflete também a violência contra a mulher. Porque ela não é capacitada para a proteção e valorização das pessoas e da vida, para a resolução de conflitos, mas sim para a violência”, completa Vladia.
Em áudios que circularam em grupos de PMs no WhatsApp, colegas comentam o fato defendendo que o erro do capitão agressor foi agir sozinho, possibilitando que a culpa seja individualizada, em vez de agir em grupo.
“O problema aí foi só o capitão batendo, rapá. Se tivesse saído uns cinco guardas esbofeteando todo mundo aí o despreparo era da polícia, não ia ser só pessoal, só com o capitão. Faltou foi mais uns quatro guardas baixando o braço em todo mundo”, afirma um PM em áudio ao qual a Ponte teve acesso.
Outro lado
A Ponte Jornalismo questionou a PMCE (Polícia Militar do Ceará) e a SSPDS (Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará), por meio de suas assessorias de imprensa. Além de pedir um posicionamento das instituições diante do fato da agressão, a reportagem perguntou se o policial responderia pela violência praticada contra uma cidadã.
A SSPDS enviou a seguinte nota:
“A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que não compactua com nenhum tipo de violência e não apoia ações excessivas por parte de seus servidores. O fato que aparece em vídeo, envolvendo um policial militar e uma mulher na Beira Mar, está sendo devidamente apurado. A Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE) também informa que o referido policial foi afastado de suas funções e que ele se apresentará no Quartel do Comando Geral (QCG), amanhã (02). A SSPDS reforça que a ação não condiz com a formação que os agentes das forças de segurança do Estado recebem e contraria o treinamento e orientações ofertados a estes profissionais.
A pasta também orienta aos cidadãos que tiverem denúncias relativas à atuação policial ou presenciarem práticas abusivas por parte de agentes de segurança a formalizarem a queixa junto à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Estado do Ceará (CGD), para que tais ações sejam devidamente investigadas”.