PM arremessa bomba de gás em meio a passagem de crianças em Paraisópolis (SP)

Ação da polícia, nas proximidades da rua que foi palco do massacre que deixou nove jovens mortos em 2019, aconteceu domingo. SSP afirma que PMs faziam ronda quando foram “hostilizados por moradores”. Veja vídeo

Um policial militar atirou bombas de gás em meio a passagem de crianças no cruzamento entre as ruas Herbert Spencer e Ernest Renan, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. A ação ocorreu no último domingo (6/10). Há quatro anos, a rua Ernest foi palco de um massacre promovido pela polícia, que deixou nove jovens mortos, numa ação para dispersar um baile funk.

Vídeos compartilhados nas redes sociais registraram parte da ação do último domingo. Em uma das imagens é possível ver uma mulher carregando um bebê no colo passando ao lado do policial. Em outro registro, divulgado pela página Vila Andrade News no Instagram, duas crianças aparecem andando na rua no momento em que o PM joga a bomba.

‘Em uma guerra que não existe’

O empresário Luis Maike, de 31 anos, contou à Ponte que sua filha de três anos está com inflamação nos pulmões em consequência da ação policial. Segundo Luiz, a criança foi acompanhar a mãe na votação e passava pela rua para chegar até uma loja de açaí. “Foi quando a polícia simplesmente começou a jogar bombas como se estivessem em uma guerra que não existe”, disse.

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Ainda conforme o relato, não ocorria nenhum baile funk naquele momento. “Nesse meio tempo só tinha pais, mães e crianças andando pela rua”, afirma. Aquela região é onde ocorre o Baile da DZ7, tradicional baile funk de rua.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), afirmou em nota que policiais militares foram hostilizados por moradores, que arremessaram pedras e latas contra a viatura. “A equipe interveio utilizando munições químicas para dispersar os presentes, que se afastaram”, escreveu a pasta. 

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A Ponte teve acesso a vídeos que mostram parte dessa abordagem. Nas imagens é possível ver os policiais se dirigindo a um homem. Pessoas que registram a ação acusam os PMs de agirem com violência, mas as imagens não mostram isso de forma clara.

Histórico de violência policial

Esse não é o primeiro caso de violência policial registrado em Paraisópolis neste ano. Em abril, uma criança de 7 anos sofreu um ferimento no rosto enquanto passava com a mãe pela mesma rua Ernest Renan, em meio a um tiroteio envolvendo policiais militares.

Em junho, um homem foi morto em uma ação da PM, após reagir a um enquadro e se atracar com dois policiais. O caso também ocorreu na rua Ernest Renan.

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Moradores denunciam enquadros violentos nas ruas, invasões de casas pela polícia sem mandado judicial e outras ocasiões em que bombas de gás foram atiradas em vielas estreitas. 

Em resposta, entidades de Direitos Humanos criaram um comitê de crise para apurar denúncias de abuso policial na comunidade. Segundo a Ouvidoria das Polícias, que integra o grupo, sete relatos chegaram para apuração. 

O Massacre de Paraisópolis 

Nove jovens morreram durante uma ação da Polícia Militar para reprimir o Baile da DZ7, em Paraisópolis, na madrugada de 1º de dezembro de 2019. Outras 12 pessoas ficaram feridas na ação. 

Diante da grande repercussão do caso, doze policiais foram acusados pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) como responsáveis pelas mortes dos jovens Bruno Gabriel dos Santos, 22, Denys Henrique Quirino Silva, 16, Dennys Guilherme dos Santos França, 16, Eduardo da Silva, 21, Gabriel Rogério de Moraes, 20, Gustavo Cruz Xavier, 14, Luara Victória Oliveira, 18, Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16, e Mateus dos Santos Costa, 23.

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As audiências do caso continuam em fase de instrução — momento em que são ouvidas as testemunhas de defesa e de acusação. Ao final, o Judiciário vai decidir se leva os policiais a júri popular ou não. A sexta audiência ocorrerá em 31 de janeiro de 2025. 

O que diz a SSP-SP 

A Ponte procurou a SSP-SP sobre o caso ocorrido no domingo (6). Leia a nota na íntegra: 

Policiais militares realizavam patrulhamento pela rua Ernest Renan, zona oeste da capital, e, durante abordagem, foram hostilizados por moradores de uma comunidade, que arremessaram pedras e latas contra a viatura. A equipe interveio utilizando munições químicas para dispersar os presentes, que se afastaram.

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