Agressão aconteceu em Osasco no fim de semana em um conhecido ponto de prostituição; relato da vítima aponta que não foi um caso isolado, já que um PM da região estaria perseguindo travestis
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Uma transexual denuncia ter sido baleada por um policial militar que atua em Osasco, na Grande São Paulo, na madrugada do último sábado (19/1). A garota foi atingida ao menos oito vezes por balas de borracha, números de buracos marcados em suas pernas há quatro dias.
Por medo de sofrer algum tipo de agressão pior, a travesti pediu para ter a identidade preservada. Segundo ela, é comum um policial “baixinho e negro” perseguir as garotas na esquina da Avenida dos Autonomistas com a Rua Ércole Ferre. Aquela área é usada por ela e outras profissionais do sexo como ponto de prostituição.
“Eu fiz um programa e pedi para ele me deixar nesta esquina, que os PMs não querem que a gente fique. Quando cheguei na frente de um prédio, um rapaz perguntou de uma amiga minha e ele soltou: ‘eu já disse que não quero vocês aqui’. Foi quando ele atirou a primeira vez nas minhas pernas”, conta a transexual.
Os disparos atingiram principalmente sua perna esquerda, que tem sete marcas dos tiros. Uma outra marca está na parte posterior da perna direita. Depois de atingida, a trans explica que precisou se esconder de uma “caçada” do agressor.
“Quando caí no chão, levantei e saí correndo com eles na viatura atrás. Atravessei a Autonomistas e me escondi atrás de uma praça. Eles subiam e desciam a rua me procurando, ele e outro cara. Tentei ligar para umas amigas e não dava certo, enquanto eles me procuravam”, relembra.
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Os relatos são de que o policial é morador da própria região e não é sua primeira ação contra as transexuais. Há histórias de outras abordagens com punhal no peito das garotas, ameaçando arrancar os seus seios. Algumas das trans deixaram a cidade por conta das ameaças.
Com os ferimentos, a vítima foi à Delegacia Seccional de Osasco para tentar registrar um B.O. (Boletim de Ocorrência), mas, segundo ela, os agentes da Polícia Civil disseram que não poderiam fazer o B.O., porque “estavam com outro caso”. Ela foi mandada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e, depois, foi para casa.
“Vou deixar isso para lá para a minha segurança, não vou fazer o B.O. porque tenho medo que façam coisa pior comigo. Se fizer, vão saber meu nome e onde moro. Eu trabalho na rua todo dia, se ele me matar, acabou. Uma amiga minha morreu em assalto. Ela morreu e deu em quê? Em nada”, desabafa a vítima.
A Ponte procurou a PM e a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, comandadas pelo governador João Doria, para pedir explicações sobre o caso. Em nota*, a Polícia Militar “esclarece que não recebeu denúncia a respeito do caso citado, no entanto, a pedido do Comandante da Área, os fatos serão apurados. A Polícia Civil está à disposição da vítima, que pode comparecer em qualquer delegacia para registro do boletim de ocorrência. Qualquer reclamação sobre a conduta dos policiais civis durante a elaboração do BO também será apurada com rigor”.
*Reportagem atualizada às 23h33 do dia 23/1