PM bate o carro enquanto ‘fazia graça’, sai atirando e mata carroceiro

    Em nota, corporação do governo João Doria (PSDB) diz que lamenta morte da vítima e que “felizmente nenhum policial morreu”

    O carroceiro Rodrigo Morais Macedo, 34 anos, morreu ao ser baleado por um policial militar no final da manhã de segunda-feira (13/4), na Rua Antônio dos Santos Neto, no Carandiru, zona norte da cidade de São Paulo.

    Ele foi morto por engano. Segundo testemunhas, a viatura do PM foi ao local em apoio a outros policiais que haviam prendido um suspeito de tráfico de drogas. Com a ocorrência já encerrada, o policial “quis fazer graça”, como conta uma moradora da região, e acabou batendo a viatura após uma manobra desnecessária. Assustado, o PM saiu do carro atirando a esmo e atingiu o carroceiro.

    A ocorrência começou quando policiais militares prenderam um suspeito de tráfico de drogas, na mesma rua, após uma perseguição a pé. Duas viaturas chegaram para levá-lo à delegacia. Na sequência, uma terceira viatura também foi até lá em apoio. Foi esse automóvel que se envolveu num acidente.

    Rodrigo morava na região há 10 anos, segundo parentes | Foto: Arquivo/Ponte

    “O cara começou a fazer zigue-zague com a viatura. Daí perdeu o controle e se enfiou debaixo do trailer”, relembra uma moradora, que pediu anonimato por medo de sofrer ameaças. Ela conta que o policial se assustou com a batida e teve “a pior reação”.

    “Era o motorista. Ele abriu a porta dando dois disparos ainda sentado no banco. Quando estava saindo do carro ainda deu mais um. Um dos primeiros atingiu o Rodrigo”, afirmou a vizinha do catador, em conversa com a Ponte na tarde desta terça-feira (14). Segundo ela, ele arrumava a carroça que usava para coletar materiais recicláveis foi baleado.

    Rodrigo recebeu atendimento médico e foi levado ao Hospital do Mandaqui, também na zona norte, mas não resistiu ao ferimento. Seu corpo ainda estava para ser liberado e a previsão era de o enterro acontecer amanhã (15).

    Danos da batina (à esq.) e PM que teria atirado em Rodrigo, segundo testemunhas | Foto: Arquivo/Ponte

    Nesta terça, um dia após a morte de Rodrigo, a carroça ainda seguia no mesmo local onde ele havia deixado. O carroceiro morava a cerca de 15 metros dali.

    O trailer onde a viatura bateu era usado por um morador para vender café. “Dará uns R$ 2 mil de prejuízo”, conta o comerciante. “Se eu tivesse dentro, não tinha chance. Olha a moeda como ficou”, continua, mostrando uma moeda de 50 centavos com uma perfuração de meio centímetro da borda ao centro.

    Parentes contam que os policiais foram truculentos, não deram nenhum suporte ao homem baleado. “Tentaram pegar o celular de quem gravava a ação deles. Não tinha necessidade”, diz uma familiar, também com receio de sofrer represália e que por isso não será nomeada.

    Vítima usava carroça para coletar recicláveis, o seu ganha pão | Foto: Arthur Stabile/Ponte

    Em nota enviada à Ponte, a PM paulista, liderada pelo comandante coronel Fernando Alencar Medeiros neste governo de João Doria (PSDB), disse que lamentava a morte de Rodrigo, a quem chamou de “suspeito”. Embora não tivesse relação com o morte, a nota da PM faz questão de destacar o passado criminoso do carroceiro.

    “A Polícia Militar lamenta profundamente o desfecho da ocorrência onde um homem foi preso por tráfico de drogas no Carandiru. Durante a ocorrência, houve troca de tiros e um suspeito, de 34 anos, infelizmente morreu. O homem morto já foi preso e era foragido da justiça. Felizmente nenhum policial morreu”, afirma a nota.

    Familiares explicam que Rodrigo estava foragido há seis anos após não ter voltado de uma saída temporária do regime semi-aberto. Ainda assim, não voltou ao crime. “Estava pegando reciclável. Acha que se tivesse envolvido com coisa errada passaria por isso?”, perguntou uma parente dele.

    Impacto da viatura danificou trailer de morador | Foto: Arthur Stabile/Ponte

    No nota, a corporação afirma que familiares de Rodrigo e testemunhas de sua morte serão ouvidas pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), núcleo da Polícia Civil responsável por apurar o caso.

    A PM não informou se os policiais envolvidos no caso seguem em serviço de rua normalmente ou se foram afastados. “Demais dados são de caráter sigiloso, conforme previsto em legislação própria para não causar prejuízo nas investigações”, finaliza a nota.

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