Repórteres fotográficos tiveram pertences revistados e galeria de fotos acessadas antes de manifestação que aconteceu em frente ao consulado dos Estados Unidos na zona sul da capital paulista
Cinco fotojornalistas tiveram seus celulares e pertences revistados por policiais militares pouco antes da manifestação em apoio à Palestina que aconteceu na última quinta-feira (26/10), em frente ao consulado do Estados Unidos, na região de Santo Amaro, zona sul da cidade de São Paulo.
Os profissionais estavam no local para acompanhar um protesto que pedia pelo fim dos ataques de Israel ao território palestino que acontecem há três semanas, desde que membros do grupo Hamas matou e sequestrou israelenses e estrangeiros, no dia 7 de outubro. Os fotojornalistas não quiseram se identificar, mas afirmaram que chegaram no local da manifestação por volta das 17h, pouco antes do horário previsto para o início do ato.
Enquanto aguardavam a chegada dos apoiadores da causa Palestina, os fotógrafos foram abordados por PMs da 4ª Companhia do 1º Batalhão da PM. De acordo com os profissionais, além de revistarem mochilas e pertences, os policiais exigiram acesso aos aparelhos celulares desbloqueados. Os fotojornalistam contam que os policiais consultaram e fotografaram o Imei (sigla em inglês para Identificação Internacional de Equipamento Móvel, que é um número único de cada aparelho celular) e acessaram a galeria de fotos. Depois disso, os aparelhos foram devolvidos e os profissionais liberados.
Essa abordagem foi confirmada pelo Comando de Policiamento da Área Metropolitana 10, responsável pelo batalhão que atua na região. No entanto, em nota assinada pelo tenente-coronel Alexandre Vitorino Roldan, comandante dos PMs responsáveis pela abordagem, e pelo major Daniel Afonso Scaranello, “foi solicitado e não exigido o desbloqueio dos aparelhos celulares”.
A nota enviada à Ponte afirma que o acesso aos celulares aconteceu para verificar o Imei, “a fim de preservar a ordem pública, integridade física dos manifestantes, policiais militares e demais cidadãos, conforme preconiza o procedimento operacional padrão da instituição”. A Polícia Militar não comenta sobre os policiais terem acessado a galeria de fotos dos profissionais de imprensa, conforme relatado.
“A fiscalização feita durante a manifestação buscava avaliar materiais que pudessem ser utilizados de forma a quebrar a ordem pública, além da verificação de IMEI acerca de ilícitos de roubo e furto [dos aparelhos]”, justifica a Polícia Militar.
Em nota publicada em seu site nesta quarta-feira (1/11), o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) dizem considerar “inaceitável e abusiva, sob qualquer prisma, a atitude dos policiais militares nessa ocasião. Além do constrangimento ilegal a que foram submetidos, que caracteriza uma forma de intimidação antes mesmo que começassem a trabalhar no local, os repórteres-fotográficos tiveram sua privacidade invadida pelos soldados do 1o Batalhão da PM”.
Além disso, a nota conclui dizendo serem “fantasiosas, além de desrespeitosas, as justificativas apresentadas na nota do Comando de Policiamento da Área Metropolitana 10, e farão chegar à Corregedoria da PM e à Ouvidoria das Polícias uma reclamação formal contra o constrangimento ilegal e intolerável sofrido por cinco repórteres-fotográficos na ocasião citada”.
A PM afirma que toda ação foi registrada pelas COP (Câmeras Operacionais Portáteis), acopladas nos policiais que realizaram as abordagem, e essas imagens serão disponibilizadas para a Justiça, e também devem ser analisadas para “subsidiar a tomada de decisão administrativa, caso tenha ocorrido inconformidades”.
Texto atualizado às 17h25 do dia 1/11/2023 para incluir nota do SJSP