PM executou adolescente com tiro nas costas no Rio, dizem testemunhas

    William César Machado Esteves, 16 anos, desapareceu após ser baleado nas costas e levado por uma viatura. Moradores fizeram manifestação na favela para exigir resposta

    William César Machado Esteve foi morto com tiro nas costas, segundo testemunhas. Foto: Arquivo pessoal

    Policiais militares mataram dois jovens na favela Gogó da Ema, em Guadalupe, Zona Norte do Rio de Janeiro, na manhã deste sábado (3/6). Moradores afirmam que viram o momento em que William César Machado Esteves, 16 anos, foi atingido nas costas por um disparo e caiu, na altura do número 943 da rua Fernando Lobo, pouco depois das 7h da manhã, horário em que o rapaz saía para trabalhar. Seu corpo, segundo testemunhas, foi levado pelos policiais e a família só conseguiu localizá-lo no final da tarde, no Hospital Carlos Chagas. O outro jovem foi identificado apenas como Romário: após ser baleado, foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, na mesma viatura.

    “Eu vi os policiais subindo pela rua Vacaria e descendo. Não encontraram a primeira boca [de fumo] aberta, passaram direto e vieram para a boca que fica em frente aos prédios do ‘Minha casa, minha vida’. Os policiais saíram do condomínio atirando para todos os lados e baleou os dois”, relata um morador, que não será identificado por medo de represálias de policiais. Em seguida, os PMs realizaram disparos para o alto, para dispersar a multidão que se aproximava. “Maior covardia”, diz ainda o morador, que, como outros, também viu o momento em que o corpo de William foi colocado na viatura pelos PMs envolvidos na ação.

    William César Machado Esteves, de 16 anos, atingido nas costas Foto: Arquivo pessoal

    William morava com a companheira e a filha de dois anos em um apartamento do condomínio “Minha Casa, Minha Vida”, exatamente em frente onde foi atingido nas costas e morreu. Ele e o irmão mais velho, Luiz Fernando Machado Esteves, de 28 anos, estavam indo juntos trabalhar, por volta das 7h, quando William voltou para buscar o carregador de celular de Luiz Fernando, que estava em sua casa. O irmão o aguardava em outro ponto da mesma rua quando ouviu tiros.

    “Eu escutei um monte de tiro e minha mãe disse que ia ver quem tinha sido atingido. Quando ela foi, encontrou meu irmão morto”, conta Luiz Fernando. “Meu irmão era uma pessoa estudiosa, nunca parou de estudar. Trabalhador, nunca se envolveu com drogas. Uma ótima pessoa, graças a Deus. Era um bom filho. Nunca fez nada de errado”, lamenta o jovem.

    Manifestação de moradores das favelas da região de Guadalupe. Foto: Arquivo pessoal

    Em desespero, sem saber para onde foi levado o corpo de William, sua família foi até o 41º BPM (Irajá) e percorreu os hospitais Salgado Filho, Albert Schweitzer e Getúlio Vargas, mas só foi encontrá-lo no Carlos Chagas, cerca de nove horas depois do desaparecimento.

    Moradores cobram respostas

    Revoltados, moradores realizam, há cerca de duas horas, uma manifestação contra a violência dos policiais do 41º BPM nas favelas da Zona Norte e exigem respostas para o desaparecimento do corpo de William. O ato começou na Rua Fernando Lobo, onde o jovem foi morto, e seguiu até a Rua Marcos de Macedo, que se encontra completamente fechada. O 41º é o batalhão mais letal do estado do Rio.

    “A população está revoltada, o corpo do garoto não apareceu até agora. A gente quer uma resposta”, disse uma moradora, durante a manifestação.

     

    Manifestação de moradores das favelas da região de Guadalupe. Foto: Arquivo pessoal

    Outro lado

    A reportagem questionou a Polícia Militar e a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, por meio de suas assessorias de imprensa. Atualização às 19h09 – A assessoria de imprensa da PMERJ enviou a seguinte nota:

    O comando do 41º BPM (Irajá) esclarece que realizou operação na Comunidade do Gogó, no Complexo do Chapadão, na manhã deste sábado (03/06). Nessa ação os policiais foram atacados por criminosos na localidade conhecida como “Vilarejo”, onde houve confronto. Após os disparos, durante o vasculhamento da área, foram encontrados dois homens feridos e ainda apreendido uma pistola, um revólver, drogas e rádio transmissor. Os feridos foram socorridos ao Hospital Estadual Carlos Chagas. A ocorrência foi registrada na Central de Garantias Norte.

     

     

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