PM fala em ‘sacrifício da própria vida’ ao fazer juramento em cerimônia com cruz em chamas

Novo vídeo obtido pela Ponte mostra policial aparentemente recém-integrado ao 9º Baep com braço em riste durante juramento. Ele fala em honrar a corporação e a sociedade paulista até mesmo com a própria vida caso necessário

A cerimônia da Polícia Militar paulista (PM-SP) que teve policiais filmados com o braço em riste e em frente a uma cruz em chamas teve também um juramento. Em um novo vídeo obtido pela Ponte, um agente que aparenta ser recém-integrado ao 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (9º Baep), unidade especializada com atuação em São José do Rio Preto (SP), fala em honrar a corporação e a sociedade paulista até mesmo com a própria vida caso isso seja necessário.

“Incorporando-me ao 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia, prometo honrar esse brasão como símbolo da dignidade, moralidade, legalidade e lealdade, pela defesa da sociedade paulista, pelas tradições do Baep e da Polícia Militar do Estado de São Paulo, se preciso, com o sacrifício da própria vida”, diz o policial militar, também com o braço em riste enquanto faz o juramento.

Leia também: Unidade da PM-SP posta vídeo de policiais com braço em riste e uma cruz em chamas

O evento aparenta se tratar de uma solenidade de entrega de braçal, quando militares encerram um estágio operacional e são efetivamente incorporados à unidade. É comum que esse tipo de solenidade seja feita em batalhões e à luz do dia, com juramentos perante as bandeiras do estado e do Brasil. A PM-SP não esclareceu as circunstâncias da cerimônia até aqui.

Perfil oficial de batalhão publicou primeiro vídeo

A cerimônia da PM-SP veio a público após um perfil oficial do 9º Baep publicar, sem qualquer contextualização e uma trilha de fundo, um primeiro vídeo no Instagram em que policiais aparecem posicionados em frente a uma cruz em chamas. Dois dos agentes aparecem, ainda, com o braço em riste.

Um perfil do Comando de Policiamento do Interior 5 (CPI-5) republicou a postagem e a conta do tenente-coronel José Thomaz Costa Junior, comandante do 9º Baep, estava marcada na publicação.

Primeiro vídeo, com música dramática, exibia aparentes policiais com braços em riste e uma cruz em chamas, símbolo usado pela organização supremacista Ku Klux Klan | Foto: Reprodução

PM-SP diz que investiga circunstâncias do caso

A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre quem eram as pessoas do vídeo, se o registro havia sido feito durante o horário de expediente delas e quais foram as circunstâncias da gravação. Perguntou também se entendia que o braço em riste e a cruz em chamas poderiam sem compreendidos, respectivamente, como alusivos à saudação romana usada por neonazistas e à cerimônia de queima de cruzes criada pela Ku Klux Klan e repetida por supremacistas brancos. Após o pedido de informações feito pela reportagem, a publicação foi tirada do ar.

Em resposta, a SSP-SP afirmou que o caso é investigado. “A Polícia Militar é uma instituição legalista e repudia toda e qualquer manifestação de intolerância. Assim que tomou conhecimento das imagens, a Corporação instaurou um procedimento para investigar as circunstâncias relativas ao caso. A Corporação não compactua com desvios de conduta e reforça que qualquer manifestação que contrarie seus valores e princípios será rigorosamente apurada e os envolvidos responsabilizados”, escreveu, em nota.

O Baep é uma unidade especializada criada pela gestão João Doria (PSDB), em 2019, para atuar como uma espécie de “Rota do interior”, com foco em ações ostensivas — atualmente, a unidade também já está presente na capital. A Rota é conhecida por ser a unidade policial que mais mata no estado.

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No caso do 9º Baep, a Ponte já mostrou que ele esteve envolvido na morte de dois jovens negros injustamente acusados de roubo em São José do Rio Preto. No último dia 27 de março, quatro agentes da unidade acabaram absolvidos em um Tribunal do Júri ao serem julgados pelo episódio.

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