Prisão de soldado foi decretada após familiares de ajudante-geral morto relatarem intimidações de PMs. Imagens de câmeras de segurança na rua onde Fabrício dos Santos foi perseguido por PM são analisadas pela Corregedoria da PM e por policiais civis do DHPP (departamento de homicídios). Existe a suspeita de que rapaz foi executado.
O Tribunal de Justiça de São Paulo decretou na quinta-feira (19/02) a prisão do soldado Diego Roberto Lopes Silva, 30 anos. O militar é investigado pela Corregedoria (órgão fiscalizador) da Polícia Militar e pelo DHPP (departamento de homicídios), da Polícia Civil, sob a suspeita de ter atirado para matar o ajudante-geral Fabrício Alves Rodrigues dos Santos, 23, quando ele estava correndo, de mãos vazias e de costas para o policial.
Imagens das câmeras de segurança de duas empresas localizadas na rua onde Santos foi perseguido pelo soldado captaram parte da perseguição e são analisadas pela Corregedoria da PM e pelos policiais civis do DHPP.
Integrante da Força Tática (espécie de grupo especial) do 19º Batalhão da PM, na zona leste de São Paulo, Silva matou Santos durante uma perseguição na manhã do dia 5 de agosto de 2014, na rua Altemburgo, Jardim Aricanduva, também na zona leste.
A prisão do soldado Diego Silva, temporária com prazo de dez dias, foi decretada pelo 4º Tribunal do Júri de São Paulo porque familiares do ajudante-geral relataram às autoridades que investigam o homicídio de Santos que policiais militares passaram a rondar a casa da família para tentar intimidá-los.
A perseguição
Naquela manhã de 5 de agosto, o ajudante-geral Santos dirigia um Fox pela região da avenida Aricanduva, uma das mais movimentadas da zona leste de SP. No veículo também estavam Daniel Rodrigues Bicudo, 29 anos, e Fernando Rosário, 21, amigos de Santos. Eles transportavam seis rodas de carro.
Quando o Fox passou pelo carro da PM no qual estavam os militares Diego Silva e Fernando Batista Braga, 28 anos, os militares resolveram perseguir o veículo porque, na versão deles, os amigos “estavam em atitude suspeita”.
Ainda segundo o que contam os PMs, ao perceber que o carro da PM estava atrás do Fox, o ajudante-geral Santos acelerou para fugir de uma possível abordagem. Quando entrou na avenida Marapanim, o veículo ficou desgovernado e bateu na calçada.
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Logo após o Fox parar, os amigos desceram e correram dos PMs, que continuaram atrás deles. Pela versão dos militares, o ajudante-geral teria atirado primeiro contra os dois PMs que, ao revidarem, balearam Santos.
Mesmo ferido, o ajudante-geral ainda conseguiu continuar a correr para tentar escapar dos PMs. Foi nesse momento da perseguição que as imagens das câmeras de segurança das empresas da rua Altemburgo gravaram Santos sendo seguido pelo soldado Diego Silva.
As câmeras de segurança
As imagens mostram que quando Santos desviou de dois caminhões estacionados, o soldado Diego Silva estende o braço direito, muito provavelmente para atirar novamente contra o ajudante-geral, que ainda consegue dar mais alguns passos antes de desabar no chão, morto.
Quando investigou a cena do crime e o corpo de Santos, o delegado Maurício Araújo Luyten, do DHPP, constatou que ele tinha ferimentos causados por tiros na mão e punho direito (um em cada parte), dois na perna esquerda, dois na região genital e um no peito. As lesões na mão podem indicar que Santos tentou se defender dos tiros dos PMs.
O delegado Luyten chamou a atenção para as empresas instaladas na rua onde Santos foi morto porque elas tinham câmeras de segurança e suas gravações poderiam ajudar a esclarecer sua morte e também que o Fox dirigido pelo ajudante-geral não tinha nenhum queixa de roubo ou furto, assim como as seis rodas que estavam dentro dele.
Segundo os PMs Diego Santos e Fernando Braga, os dois responsáveis pelos tiros contra Santos, o ajudante-geral estava armado com uma pistola .380, com a numeração raspada. Os PMs não foram feridos na suposta troca de tiros.
Amigos liberados
Na sequência, com a ajuda de mais policiais militares, os dois amigos de Santos foram detidos. “Considerando que não há prova de prática de crime por parte de Daniel Rodrigues Bicudo e Fernando Rosário [os amigos de Santos]”, segundo relatou o delegado Luyten, ambos foram liberados e passaram a figurar como testemunhas da morte do ajudante-geral.
Ao mesmo tempo em que decretou a prisão temporária do soldado Diego Santos, atualmente no Presídio Militar Romão Gomes, no Jardim Tremembé, zona norte de São Paulo, o Tribunal de Justiça de SP não recebeu o pedido de prisão contra Fernando Braga, seu companheiro de trabalho na PM.
Para a defesa dos dois PMs, eles agiram dentro da lei e só atiraram em Santos depois de o ajudante-geral ter tentado assassiná-los para não ser preso.