PM invade casas e agride moradores em Praia Grande (SP) após morte de policial

Residentes do bairro Aviação denunciam que abusos acontecem desde quarta (19), quando o PM Jeferson Chapani Szklarski foi assassinado na região

Depois que o policial militar Jeferson Chapani Szklarski, de 38 anos, foi assassinado na última quarta-feira (19/1), os moradores do bairro Aviação, em Praia Grande, município do litoral sul paulista, não têm paz. Eles relatam que estão sofrendo com os abusos praticados pela PM que tem invadido casas, agredindo pessoas, inclusive idosas e grávidas, com a alegação de procurar os autores do crime.

Vídeos obtidos pela Ponte mostram uma casa com móveis revirados e uma senhora sendo intimidada por um policial militar que, em seguida, agride a pessoa que está registrando as imagens. Há relatos que um jovem da comunidade foi morto por policiais após uma sessão de tortura.

“Todo dia eles estão metendo o pé na minha porta. Minha casa está toda arrebentada. Eu vou querer meus direitos e vou correr atrás disso. Porque a gente não pode pagar pelo erro dos outros. Da última vez eles vieram aqui de madrugada derrubando tudo e eu estava dormindo”, conta uma moradora do local que prefere não ser identificada.

De acordo com as vítimas das agressões, os policiais alegam que a comunidade estaria escondendo quatro homens que teriam participado do homicídio que ocorreu na Rua Thiago Ferreira. A mulher que teve a casa invadida e revirada por policiais diz que o clima de medo está instalado na comunidade e que são poucos os moradores que têm coragem de ficar pelas ruas do bairro na última semana.

“Uma policial me disse que enquanto a gente não entregar quem matou o rapaz, nós podíamos fazer quantas denúncias que quiséssemos que não ia adiantar. A gente vai entregar quem se a gente não sabe de nada? A gente só quer ter paz”.

O advogado criminal Rui Elizeu está acompanhando o caso junto com outros militantes dos direitoshumanos e moradores da Aviação. O grupo pretende levar as denúncias de abusos para o Judiciário e buscar as responsabilização pelas violações que vêm ocorrendo dentro da comunidade.

“Tornou-se uma triste e inaceitável realidade, logo após a morte violenta de algum policial, as ininterruptas incursões e verdadeiras ocupações de comunidades pela Polícia Militar. Nessas operações policiais, pautadas pela ilegalidade, moradores inocentes são esculachados, humilhados, agredidos e têm suas humildes moradias invadidas, sem mandado judicial e com depredação de mobiliário”, afirma Rui Eliseu.

O ouvidor das polícias de São Paulo Elizeu Soares chamou a ação policial de um absurdo” ao analisar as imagens da invasão de domicílio a pedido da Ponte. Ele afirma que irá pedir uma investigação sobre a conduta dos agentes públicos. “Diante das imagens veiculadas, há uma situação de agressão a senhora, fato inaceitável e lamentável, foge completamente aos protocolos da Polícia Militar, e portanto uma situação de abuso. Vou acionar a Corregedoria da PM e requisitar a apuração da conduta dos policiais”.

Suspeito de participação no crime é preso

O policial militar Jeferson Chapani Szklarski, do 45º BPM/I, foi morto na Rua Tiago Ferreira, na Aviação, mas seu corpo foi encontrado horas depois em São Vicente, município vizinho. Na noite da sexta-feira (21/1),  um homem foi preso acusado de estar levando para ser queimado o veículo utilizado para transportar o corpo do PM de uma cidade para outra no dia do crime.

“O ajudante contou que foi contratado por um homem conhecido por ‘Beto’ para transportar o veículo da cidade de Santo André até a cidade de Suzano, onde seria ateado fogo no automóvel. Ele receberia R$300,00 pelo serviço”, informa uma nota publicada no site da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre o caso.

A secretaria informa que as investigações sobre a morte do policial estão sendo realizadas pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Santos.

Morto nas mão da polícia

Os moradores da Aviação relatam que um rapaz que morava na comunidade, conhecido apenas como Nil, teria morrido depois de ter sido torturado por policiais militares. O caso teria ocorrido no começo da noite do sábado (22/1). Vizinhos comentam que os pais da vítima são falecidos e o único irmão não moraria mais na comunidade.

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“A gente conhecia ele e sempre foi um rapaz muito bom. Trabalhava na coleta de lixo e nas horas vagas vendia coco na praia”, lembra uma vizinha.

Secretaria da Segurança Pública não responde

A reportagem pediu esclarecimentos para a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre os fatos ocorridos e denunciados na última semana pelos moradores do bairro da Aviação. Até o momento da publicação dessa reportagem não foram respondidos os questionamentos feitos sobre as denúncias de invasão de domicílio e agressões por parte dos policiais, nem sobre o morador que teria sido torturado e morto por PMs.

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