Após gritos contrários ao presidente eleito, jovens viraram alvo de balas de borracha e bombas lançadas pela PM, que foi atração na avenida Paulista; jornalista foi hostilizada por apoiadores de Bolsonaro
O ato em comemoração à vitória de Jair Bolsonaro (PSL), eleito presidente neste domingo (28/10), teve muita foto, cosplay de policial e também agressões, tiros de bala de borracha e bombas de gás, lançadas pela Polícia Militar contra um grupo de jovens que fazia o chamado “rolezinho” – nome dado pela juventude periférica a passeios em grupos em áreas públicas da cidade – no vão livre do MASP (Museu de Arte de São Paulo). Pelo menos 3 pessoas foram detidas, segundo registrou a equipe de fotojornalistas da Ponte. A SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), divulgou, no final da noite desta segunda-feira (29/10), que foram três jovens foram detidos e levados ao 78º DP, onde assinaram um termo circunstanciado por desacato.
O detalhe é que o encontro dos jovens não tinha qualquer motivação política. Estavam reunidos para aproveitar a noite na avenida Paulista, centro de São Paulo, beber, ouvir música e paquerar. Um grupo de eleitores do Bolsonaro passou a gritar em comemoração à vitória do candidato do PSL, quando alguns dos jovens foram para a avenida e, então, se manifestaram contra o candidato de extrema direita. A PM, que fazia o acompanhamento da comemoração, avançou sobre o grupo e lançou bombas de gás e disparou balas de borracha para dispersá-los.
Segundo o registro da reportagem da Ponte, os jovens, predominantemente vindos de regiões periféricas de São Paulo, estavam reunidos no espaço que fica após o vão livre e seguiram para a avenida quando o grupo de apoiadores de Bolsonaro chegou perto do MASP. Neste momento, decidiram gritar “Ele Não” em expressa crítica ao presidente eleito. Foi nesse momento que uma tropa do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) partiu para cima dos jovens.
A reportagem também constatou que bolsonaristas chegaram a afirmar que jovens eram drogados e tinham que ser presos mesmo, estimulando a repressão policial. Muitos manifestantes usavam a camiseta com o rosto do presidente eleito, outros tantos com motivos militares, alguns com alusões ao período da Ditadura Militar e houve também quem optasse pela camisa da seleção brasileira, bastante utilizada nos protestos de 2016 pedindo o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Na versão dos policiais que estavam no momento do ocorrido, jovens provocaram e lançaram objetos contra o grupo de apoiadores do presidente eleito. Além disso, ainda de acordo com um PM, um dos jovens detidos teria agredido um idoso que estava na avenida.
A protagonismo da Polícia Militar na noite de domingo não se limitou à ação de repressão, mas também ao assédio de bolsonaristas para tirar fotos. Motos da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) foram enfileiradas em um trecho da avenida e, um a um, participantes do ato vestiam o capacete e subiam na moto para fazer fotos. Alguns arriscavam fazer o sinal de arma com as mãos, largamente utilizado pelo presidente eleito durante a campanha. Outros tantos, pediam para posar em frente aos policiais empunhando a bandeira do Brasil e vuvuzelas.
A Ponte procurou a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) para questionar sobre a ação da Polícia Militar na noite deste domingo. Em nota, a pasta informa que a PM foi acionada para conter um princípio de tumulto. “Algumas pessoas atiraram garrafas e pedras contra os Policiais da Companhia de Ações Especiais de Polícia (CAEP), que atuaram na dispersão dos envolvidos”, diz a nota.
Há relatos também de hostilização contra profissionais de imprensa que estavam trabalhando no local. A repórter da Folha Anna Virginia Balloussier fez um desabafo em suas redes sociais após a cobertura. Apoiadores e o próprio candidato de extrema direita fizeram duras críticas ao jornal depois da reportagem que apontava que um esquema pago por empresários de disparo massivo de mensagens de Whatsapp teria tido grande responsabilidade em impulsionar a campanha do presidenciável e, inclusive, na disseminação de fake news.
Fui cobrir a celebração dos eleitores de Bolsonaro na Paulista. Assim que souberam que eu era da Folha, vários me cercaram e me hostilizaram, quiseram me expulsar, gritaram “vai pra Cuba que o pariu”. Um só me defendeu, dizendo que antes do capitão “vem a liberdade de imprensa”.
— Anna Virginia Balloussier (@annavirginia) October 28, 2018
*Reportagem atualizada às 22h01 do dia 29/10