Gicélio de Souza Filho, 15, voltava da escola para casa quando foi baleado, em Santos (SP). “Ele só foi comprar um guaraná”, lamenta irmã
O adolescente Gicélio de Souza Filho, 15 anos, foi morto durante uma ação da Polícia Militar no Morro São Bento, em Santos, no litoral de São Paulo, por volta das 23h da quarta-feira (26/6). A família diz que ele voltava da escola e parou em uma adega para comprar um refrigerante quando foi ferido. Em depoimento, os PMs disseram que foram recebidos a tiros, versão negada pela família.
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O estudante do período noturno do 1º ano do Ensino Médio fazia o caminho habitual da Escola Estadual João Octávio dos Santos para casa nesta quarta-feira (28/6). A distância era de cerca de 20 minutos, conta a irmã Thaina Alonso, 29. “Ele estava vindo da escola com o caderno na mão”, diz.
Como o adolescente demorou a chegar em casa, a família passou a procurá-lo. Primeiro ligaram para o celular, sem sucesso em completar ligações ou em retorno para as mensagens. Eles foram informados sobre um tiroteio nas proximidades e passaram a andar pelo morro em busca de Gicélio.
Thaina conta que os policiais impediram ela e a família de se aproximarem do local isolado em função do tiroteio. Os agentes teriam dito que entre os baleados não havia adolescentes e mandaram que elas saíssem dali.
Ainda em busca por Gicélio, Thaina foi até a Santa Casa da Misericórdia de Santos. Lá, ela reconheceu o corpo do irmão. “Ele só foi comprar um guaraná. Ele é inocente”, diz a irmã.
PMs falam em troca de tiros
O caso foi registrado na Central de Polícia Judiciária de Santos (CPJ). Os policiais informaram em depoimento que houve determinação do Comando Força para uma incursão no morro São Bento. Cinco viaturas fizeram cerco no acesso ao morro enquanto outras duas acompanhavam uma motocicleta, posteriormente apreendida.
Ainda na versão dos policiais, durante a ação no morro, quando estavam perto de uma unidade do Bom Prato (restaurante popular mantido pelo governo estadual), viram dois homens armados, que fugiram ao notarem a presença da PM.
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Durante a busca, os policiais teriam visto ao menos outros dez indivíduos que supostamente dispararam contra os agentes e houve troca de tiros. O tenente Patrick Calyuli Silva foi atingido por um tiro e socorrido. Ele foi liberado e depois compareceu à delegacia de Santos, onde fez o exame residuográfico.
Além dele, os policiais relataram que “dois dos criminosos que efetuaram disparos contra as forças de segurança foram atingidos”. Mesmo levadas à Santa Casa da Misericórdia de Santos, ambos morreram. Testemunhas teriam dito à irmã que a PM chegou atirando perto de onde Gicélio estava. “Meu irmão não trocou tiros com eles. Ele nunca se envolveu nesses negócios”, diz.
Os PMs afirmaram terem encontrado uma arma e drogas na suposta rota de fuga dos perseguidos. O delegado Marcelo Gonçalves da Silva apreendeu as armas dos policiais Marcelo Oliveira da Silva, Sergio Souza de Andrade, Atila Araujo Valverde Delgado e Patrick Calyuli Silva. Também foi solicitado exame residuográfico nos PMs e nos dois mortos.
Adolescente brincalhão
Gicélio morava com a mãe, a irmã Thaina, os filhos dela e outro irmão. Ao todo, a família tem seis irmãos. Ele era o caçula. “Era um menino brincalhão que zoava todo mundo”, diz Thaina.
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O adolescente foi sepultado nesta sexta-feira (28/6) no Cemitério Municipal da Areia Branca, em Santos. Thaina conta que, durante o velório e o enterro, várias viaturas da Polícia Militar ficaram próximas do local. Algumas pessoas que iam para o velório, inclusive crianças, teriam sido revistadas.
O que dizem as autoridades
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) solicitando entrevista com os policiais citados, com o delegado e com um porta-voz da instituição para repercutir o caso. O pedido foi rejeitado e a pasta se pronunciou em nota.
Leia nota na íntegra
Um homem de 38 anos, e um adolescente, de 15, morreram na noite desta quarta-feira (26), na comunidade Morro São Bento, em Santos. Policiais militares atuavam no interior de uma comunidade, quando viram cerca de dez homens armados. Os suspeitos atiraram contra os PMs, que intervieram. Um militar também foi atingido e passou por atendimento médico. No local, foram apreendidas três armas de fogo, além de porções de maconha e cocaína. O caso está sendo registrado pela Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos, que solicitou perícia ao local e às armas dos PMs. Todas as ocorrências de morte decorrente de intervenção policial são investigadas por meio de inquérito policial pela 3ª Delegacia de Homicídios, da DEIC da cidade e pela PM, por meio de IPM.