Segundo MTST, Daniquel Oliveira dos Santos foi morto com um tiro na nuca depois de subir num poste da ocupação Fidel Castro
Um militante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) foi morto durante ação policial, na madrugada de quinta-feira (5/3), em Uberlândia, no interior de Minas Gerais. De acordo com a nota do movimento, Daniquel Oliveira dos Santos, de 40 anos, foi atingido na nuca “depois de subir em um poste de uma das casas” da ocupação Fidel Castro, a qual coordenava há três anos na cidade.
Em protesto à morte de Daniquel, membros da entidade interditaram a BR-050 no mesmo dia. O ativista do movimento e ex-presidenciável Guilherme Boulos divulgou vídeo da manifestação exigindo respostas e afirmou que a PM “reprimiu a manifestação com bombas e balas de borracha, ferindo 3 pessoas”.
“É inadmissível que um trabalhador que luta pelo direito básico à moradia seja assassinado de maneira tão cruel e fria por um agente de segurança pública. O MTST expressa seu mais profundo repúdio à PM de MG e à política de criminalização da pobreza levada a cabo pelo governador Romeu Zema”, escreveu Boulos.
De acordo com a assessoria de imprensa da corporação, policiais militares da 9ª Companhia Independente de Policiamento Especializado “realizavam uma incursão policial, quando na Avenida Rui de Castro Santos depararam com três indivíduos próximo a um matagal”. Ao se aproximarem do trio, diz a nota, “perceberam que um deles portava uma arma de fogo, tipo revólver e, ao tentarem abordá-los, eles desobedeceram as ordens dos militares e fugiram pelo matagal, um deles com a arma em punho e apontando-a em direção aos militares”.
Os PMs alegam que atiraram cinco vezes contra eles em legítima defesa. No matagal, os PMs afirmam que encontraram Daniquel com “sangramento na região da cabeça” e que havia um revólver calibre 38 ao seu lado, com três cartuchos intactos e um cartucho picotado. A assessoria ainda afirma que o militante foi socorrido ao Pronto Socorro do Hospital da Universidade Federal de Uberlândia, mas acabou falecendo.
Outro homem, que identificaram apenas com as iniciais E.C.S., de 36 anos, estaria “escondido e deitado em meio ao mato” e que foi preso. A nota não menciona sobre o terceiro suspeito. A corporação diz que ação policial não tinha a ver com “questões relacionadas a movimentos sociais” e que o caso foi encaminhado à Polícia Judiciária Militar.
A versão da polícia é contestada pelo MTST, que aponta tentativa de criminalização do movimento.
Ao G1, o coordenador regional do MTST, Jairo dos Santos Ferreira, disse que um grupo de moradores da ocupação estava fazendo reparos na rede de energia e que os policiais chegaram atirando. “A gente tem certeza que ele [Daniquel] foi assassinado pela polícia. Ele teve que saltar da escada e teve que sair correndo porque a polícia já chegou atirando”, declarou Jairo. “Em nenhum momento abordaram ou pediram para descer da escada. Já chegaram atirando. A gente está reivindicando justiça, porque a gente não aguenta mais essa polícia que serve para reprimir e matar o povo pobre”.
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal emitiu comunicado declarando que “voltou a oficiar a Procuradoria da República em Uberlândia solicitando prioridade para o tema” após a notícia da morte do militante do MTST.
Segundo o texto, o órgão firmou um termo de cooperação com o movimento, em março do ano passado, a fim de garantir o acesso ao direito à moradia as mais de 900 famílias da ocupação Fidel Castro. “Dentre as medidas previstas na cooperação está a atuação para o enfrentamento de violências, perseguições e outras formas de ação arbitrária contra populações que lutam para acesso ao direito à moradia”.
A Ponte procurou a assessoria de imprensa da Polícia Civil de Minas Gerais a qual informou, por telefone, que os laudos pericial e necroscópico ficarão prontos na próxima semana. Questionada sobre a investigação, a corporação disse que ocorrências de intervenção policial são apuradas pela PM e que o Ministério Público também está acompanhando o caso.
A reportagem tentou contato com o MP, mas até a publicação não obteve resposta.