PM que matou jovem por causa de um cone será julgado em maio de 2020

    Luís Paulo Izidoro alega que arma disparou sozinha ao abordar Brian Cristian Silva, em 2016, depois que ele derrubou um cone de trânsito em Ourinhos (SP)

    A Justiça de São Paulo marcou para o dia 22 de maio de 2020 o júri popular que analisará o assassinato do jovem Brian Cristian Bueno da Silva, então com 22 anos, morto no dia 8 de junho de 2016. O policial militar Luís Paulo Izidoro responde pelo crime, ocorrido durante uma abordagem realizada porque Brian derrubou um cone de trânsito em Ourinhos, no interior de São Paulo.

    Há um conflito de versões: o PM alega que sua arma disparou por conta própria, sem intenção, enquanto Brian fez um movimento brusco. Os amigos do jovem garantem que o policial estava “exaltado”, o agarrou pela camisa e o chacoalhou antes de ouvirem o disparo.

    A juíza Raquel Grellet Pereita Bernardi considerou que há elementos suficientes para o julgamento do PM por homicídio, que contará com cinco testemunhas de acusação, uma em comum e quatro de defesa.

    Brian morreu com um tiro no pescoço, assassinato registrado em vídeo obtido pela Ponte. Ele voltava de uma festa na qual tinha ido com amigos e se dirigiam sentido São José do Rio Pardo, cidade vizinha, distante 257 quilômetros da capital paulista. O jovem ocupava o banco do passageiro do carro, ao lado do motorista. Na avenida Jacinto Ferreira de Sá, Brian teria colocado a mão para fora do veículo e derrubado um cone de sinalização. Foi quando a PM os abordou.

    Os amigos de Brian contam que Izidoro chegou alterado ao falar com Brian, na porta do passageiro, ordenando que o jovem saísse do carro. A versão é de que não havia como pois o policial bloqueava a abertura da porta com o corpo. Quando Brian tentou tirar o cinto, os ocupantes do carro contam que ouviram o disparo letal.

    Izidoro alega que apontava a arma para o chão durante a abordagem e de ter pedido que os rapazes saíssem do carro, não sendo atendido. Quando chegou mais perto, Brian teria feito um movimento brusco que fez o PM recuar. Com esse momento, segundo o policial, sua pistola Taurus calibre .40 teria disparado sozinha. O PM alega que nem estava com o dedo no gatilho.

    Brian morreu com o único disparo, que o acertou no pescoço | Foto: Arquivo pessoal

    A denúncia do MP (Ministério Público) vai de encontro com a versão dos amigos da vítima. “Luís Paulo [Izidoro] agiu por motivo fútil, uma vez que matou a vítima em razão da mesma ter mexido em um cone de sinalização. Da mesma forma, Luís Paulo agiu mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, pois Brian não teve tempo de ter qualquer reação à abordagem policial”, sustenta o promotor Silvio da Silva Brandini, responsável por acusar o PM por homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e sem chance de defesa para a vítima).

    Por outro lado, a defesa do PM entrou com recurso buscando a absolvição sumária. A tese é exatamente a de que a arma disparou sozinha, citando casos em que pistolas da marca Taurus atiraram espontaneamente, sem movimentos intencionais. “Já recorremos da decisão, entramos com embargos de declaração. Vamos recorrer até Brasília se for necessário. A morte aconteceu por defeito na arma, não foi por dolo ou culpa. A arma contém defeito mesmo”, explicou a advogada Sandra Kamimura, em entrevista à Ponte, na época em que entrou com o recurso.

    A advogada buscava o adiamento do juri, o que os desembargadores José Raul Gavião de Almeida, Marco Antônio Marques da Silva e Cassiano Ricardo Zorzi Rocha negaram.

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