Ação de subtenente garantia que casas usadas para jogos de azar não sofressem batida de viaturas que patrulhassem o entorno
Em quatro dias, a Polícia Militar do Estado de São Paulo registrou dois casos de vazamentos de informações do Copom Online (Centro de Operações da Polícia Militar) para o crime organizado. Os dados indicam informações em tempo real, como localização de viaturas em patrulhamento, dados dos policiais em serviço e são de uso exclusivo de integrantes da corporação.
Nesta terça-feira (22/10), uma operação em conjunto do MP (Ministério Público) do estado com a PM prendeu integrantes de um grupo criminoso que atuava com jogos de azar. Entre os seis presos estão dois policiais militares: um major da reserva, responsável pela segurança da quadrilha, e um da ativa, que informava dados do Copom para evitar batidas nas casas usadas pelos criminosos.
A Ponte apurou que este policial atua no 48º BPM/M (Batalhão de Polícia Militar Metropolitano), responsável pelos bairros de Itaquera, Conjunto José Bonifácio, Guainases, Jardim Robrú e Parada XV de Novembro, na zona leste da capital paulista, mas não há detalhamento sobre sua patente e o limite de seu acesso que teria ao sistema. Segundo informado pelo corregedor da PM, o coronel Marcelino Fernandes, o Copom tem níveis de 1 a 5, em escala crescente de acordo com a hierarquia interna. Cabos, por exemplo, possuem acesso 2 e o corregedor, responsável por investigar os policiais, acesso máximo.
Na sexta-feira (18/10), reportagem da Ponte revelou que traficantes tiveram acesso ao sistema após denuncia de PMs em trabalho. Ao analisarem o celular de um suspeito – não se sabe se eles tinham autorização judicial para tal -, identificaram que o homem tinha no celular informações do sistema da PM. A Corregedoria investiga o caso para saber se o vazamento foi proposital, por meio de hackeamento, se foi feito por outro PM ou pelo homem indicado como dono do login, um cabo da tropa.
Neste segundo caso, o policial envolvido, um subtenente, garantia que os imóveis utilizados para a prática de jogo de azar não sofressem ações policiais. A operação do MP com a PM prendeu seis pessoas, entre elas os dois policiais citados, colocou em prática 101 mandados de busca e apreensão em 42 casas na capital paulista. Foram apreendidos R$ 200 mil, US$ 10 mil e 2,75 mil euros em espécie.
Os policiais encontraram drogas na casa do subtenente, material ainda não identificado pela corporação, e armamentos na casa do major aposentado. Ambos responderão por associação criminosa e violação do sigilo profissional. O subtenente responderá em flagrante pela posse de drogas e o major por parte das armas apreendidas não estarem em situação regular. Ele também tinha mais de mil munições em sua residência, bem como dois coletes balísticos.
Porta-voz da PM, o tenente-coronel Emerson Massera apontou que estes dois casos não alteram o modo como a corporação usa o Copom. “O que a PM está fazendo de concreto, efetivo, é atuando por meio da Corregedoria, não apenas na identificação dos responsáveis pelo vazamento e divulgação das informações, mas também na proteção dos policiais que tiveram suas informações vazadas”, explica Massera, assegurando que o “sistema tem uma segurança muito avançada”.
O major avalia que os dois casos de vazamentos são distintos, mas com a mesma origem de um policial militar tendo acesso e repassando as informações. Dizendo que o primeiro caso “envolve a segurança dos policiais” e a Corregedoria é responsável também por resguardar os agentes de segurança que tiveram as informações compartilhadas, Massera aponta que o principal é punir quem divulga estes dados.
“Hoje, com a facilidade, tecnologia e avanço das mídias sociais, aparelhos de telefonia celular, a segurança acaba sendo mesmo um grande desafio e, por isso, temos que punir com máximo rigor possível qualquer desvio de comportamento que comprometa a segurança das informações, isso é vital em nosso trabalho”, diz. “Não dá para trabalhar sem segurança, principalmente segurança em relação às informações dos agentes públicos”, segue.