Jovem tentava assistir aula, no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, mas acabou no 47º DP (Capão Redondo). Escola estadual afirma não ter acionado a Polícia Militar
Por Arthur Stabile, especial para a Ponte Jornalismo
Um estudante foi retirado com ação truculenta da PM da escola estadual Reverendo Jacques Orlando Caminho D’Ávila, no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, na noite de quinta-feira (16/06). Vídeos obtidos pela Ponte Jornalismo mostram a abordagem dos policiais, que levaram o rapaz, de 21 anos, para o 47º DP (Capão Redondo). Após assinar termo circunstanciado, ele acabou liberado do local.
A confusão aconteceu após G. chegar atrasado para a aula do EJA (Educação de Jovens e Adultos) e não ter entrada liberada pelos diretores da escola. Tentando não perder o dia letivo, o estudante discutia com os funcionários da escola quando uma viatura que fazia patrulhamento na região chegou ao local. De acordo com as imagens, G. se revoltou com a abordagem dos oficiais por estes terem questionado se o rapaz fazia “parte do partido”, em referência ao grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital).
O estudante se recusou a entrar na viatura, após ordem dos PMs. “Não estou desobedecendo uma ordem. Você não soube fazer da sua autoridade, me tratou como qualquer um, me chamou de bandido”, disse aos oficiais, que reagiram com truculência. Dentro da escola, imobilizaram o garoto. Enquanto um deu uma chave de braço, outros dois o derrubaram para colocar as algemas. Depois, levaram G. para o DP.
Procurados pela reportagem, funcionários da escola confirmaram o caso. Porém, se recusaram a explicar os detalhes da confusão, tanto entre G. e a direção da escola, quanto em relação aos policiais.
Ao analisar o vídeo, o ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Julio Cesar Fernandes Neves, considerou abusiva a ação da PM neste caso. “Truculência desnecessária. Vamos oficiar imediatamente a Corregedoria da Polícia Militar para que vejam o vídeo e venham punir os policiais que dentro de uma escola agiram desta maneira. Também ao Ministério Público”, salientou Neves.
Outro lado
Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, os policiais reagiram com o uso da força pelo fato de G. se recusar a ser abordado pelos policiais e terem os desacatado. “Os PMs relataram que faziam patrulhamento pela região quando encontraram o rapaz em frente à escola. Ele se negou a ser abordado pelos policiais e os desacatou. Por isso, o rapaz foi conduzido ao 47º DP, que registrou um termo circunstanciado. Após depoimento, o rapaz foi liberado e o caso foi encaminhado ao Jecrim para apreciação”, explicou, por meio de nota, a pasta.
Já a Diretoria de Ensino Sul 2, que abrange a escola Reverendo Jacques Orlando Caminho D’Ávila, garantiu, por meio de nota enviada pela Secretaria da Educação, que não solicitou a presença dos policiais para solucionar o caso e explicou o desentendimento entre as partes pela falta de um documento que libera o acesso aos alunos.
“A escola tem um sistema interno de controle dos alunos que trabalham e que, por isso, costumam chegar atrasados. Para facilitar a vida deles, a unidade criou uma espécie de carteirinha para estes estudantes apresentarem na porta e poderem entrar na segunda aula. Na noite desta quinta-feira (16), os alunos que chegaram atrasados esperavam na porta para serem liberados. O jovem mencionado pela reportagem não tem a carteirinha e, ao ser barrado, passou a ofender a vice-diretora, que estava controlando o acesso”, sustenta, apontando que a ronda escolar interferiu por conta própria neste caso.