Participantes afirmam que policiais solicitaram documentação de organizadoras e teriam dito que estavam “monitorando” evento do partido
Militantes do PSOL em São Paulo denunciam que policiais militares abordaram participantes de um congresso de mulheres do partido, na manhã deste sábado (3/8), afirmando que o evento estava sendo “monitorado” e que precisavam da documentação das organizadoras.
O 5º Congresso de Mulheres do PSOL estava acontecendo no auditório do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), na região central da capital. De acordo com a deputada federal Sâmia Bomfim, entre as 9h e 10h da manhã, quando o encontro estava começando, uma viatura M-13328, do 13º Batalhão da PM, estacionou em frente ao sindicato. “Dois policiais, um homem e uma mulher, pediram para falar com as organizadoras do evento, perguntando do que se tratava a atividade e pediu o documento delas. Elas se recusaram a entregar porque é um evento privado, num espaço privado, e não se trata de nenhuma manifestação pública que justificaria algum tipo de negociação com a polícia”, relata.
Depois, segundo a parlamentar, os soldados fizeram anotações e disseram que voltariam ao local. “Umas 10h40, outra viatura retornou, com outros dois policiais, novamente um homem e uma mulher, e foram um pouco mais incisivos, dizendo que sabiam do que se tratava a atividade, por isso queriam os documentos, e que queriam acompanhar a atividade e saber detalhes do que estava sendo discutido no espaço”. Novamente, as militantes se negaram a entregar os documentos e a deputada afirmou que foram chamados representantes da OAB para acompanhar a abordagem, momento em que a viatura deixou o local.
A página do setor de mulheres do partido divulgou uma nota declarando que a ação foi “uma evidente tentativa de intimidação”.
“A gente resolveu fazer uma denúncia pública porque ficamos muito preocupadas. É uma atividade política fechada do partido e a polícia nem mais nem menos aparece e quando questionada do porquê estarem aqui, já que não há nenhum protocolo para isso, não responderam”, declarou a deputada.
O presidente nacional do partido, Juliano Medeiros, declarou no Twitter que “Não há qualquer justificativa para que a PM ‘monitore’ um evento partidário. Esse gesto de intimidação é inaceitável. Não estamos mais na Ditadura Militar, quando o direito de reunião podia ser coibido. Vamos acionar todas as autoridades contra esse absurdo. Chega!”
Sâmia disse que agendou uma reunião com o secretário General João Camilo Pires de Campos para discutir esse caso e outras abordagens a ativistas políticos, já que estariam recebendo denúncias sobre outras situações. “Entramos em contato com o secretário de segurança pública e ele se demonstrou constrangido, não sei se ele viu a repercussão nas redes sociais, e garantiu que não aconteceria mais uma ação como essa e que contataria o batalhão da PM da região”.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da PM, por meio de nota, disse que os policiais faziam patrulhamento de rotina e “foram ao local para verificar concentração de pessoas que se iniciava. Ao tomar ciência de que eram cidadãos ligados a partido político e em reunião para realização de plenária, questionaram se as pessoas, após as discussões, iriam sair em ato democrático, que pudessem tomar vias públicas”. A nota justifica que ação visava “a segurança do evento” e “como os presentes disseram que o evento se consistia em reunião interna, os patrulheiros deixaram o local”.
Professores interrogados e neurocientista filmado
Essa é a terceira situação em menos de duas semanas em que agentes da segurança pública fazem intervenções em eventos que discutiam questões políticas. Em 27 de julho, o neurocientista Sidarta Ribeiro, um dos mais respeitados em sua área no Brasil, professor titular e vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, estava fazendo uma apresentação sobre os riscos para a ciência e tecnologia diante dos cortes do governo federal que afetam em cheio a pesquisa no país, quando foi gravado por militares no auditório da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. A ação causou “estranheza” ao pesquisador. A versão do Exército é de que os militares agiram por “interesse individual”.
“A desculpa que eles deram não é implausível. Mas eu acho que se fosse o caso de atitude privada, eles teriam usado o celular para filmar e estariam na cadeira, não ficariam atrás e se locomovendo em cima das pessoas. Quando você está só interessado, você não está preocupado em documentar detalhes. Eles estavam tentando documentar em detalhes”, declarou Sidarta em entrevista à Ponte.
Na semana anterior, três policiais rodoviários federais armados entraram em uma reunião marcada por professores de Manaus, no Amazonas, que preparavam atos contra o presidente Jair Bolsonaro. Os policiais interrogaram os docentes sobre as manifestações e os organizadores sem embasar motivo ou prerrogativa legal.