Vídeo mostra jovem de 24 anos recebendo golpes na cabeça e nas costas nesta sexta-feira (1/3); segundo testemunhas, policiais estavam evacuando as pessoas de forma truculenta e impedindo que as ações fossem filmadas
Policiais militares do Distrito Federal agrediram foliões com cassetetes por volta das 21h de sexta-feira (1/3), durante dispersão do bloco de carnaval “Na Batida do Morro”, no Setor Comercial Sul, em Brasília.
Nas imagens gravadas com celular, o caixa Jarleno Lima de Castro, de 24 anos, aparece recebendo os golpes de três PMs na cabeça e nas costas. Ele conta que estava com um grupo de 10 amigos e que os agentes estavam evacuando as pessoas de maneira truculenta. “A gente estava saindo do evento, que já tinha acabado, e os policiais estavam dispersando todo mundo de forma muito agressiva. Eu falei que não precisava disso porque estava todo mundo saindo e falei que ia gravar. Quando eu peguei o celular, o policial bateu com o cassetete no meu celular, que caiu no chão e ele ainda chutou meu celular”, lembra. “Foi quando eu abaixei, até empurrei um pouco o PM para não chutar meu celular e eles começaram a me bater. Veio o Rodrigo, um outro amigo meu, e bateram nele também”.
Quem filmou a ação foi seu amigo Carlos Henrique Fernandes, de 23 anos. “Os policiais estavam contendo o pessoal com muita agressividade, jogando spray de pimenta na galera, porque tinha muito usuário droga, mas isso não justifica. Eu fui perguntar para os policiais por que estavam fazendo aquilo, eles não respondiam, não davam informação de que batalhão eles eram”, afirma.
De acordo com eles, quando foram levar os dois feridos ao Hospital de Base, próximo ao local, havia uma viatura cujos PMs ameaçaram o grupo para apagar os registros. “Quando a gente foi para o hospital, vieram outros policiais sem identificação atrás da gente e eles ameaçaram e mandaram apagar. Tiraram os celulares das mãos de dois dos meus amigos e apagaram as fotos”, conta. “Eu tive que ficar escondido porque eu também tinha gravado e fiquei com medo de eles virem atrás de mim também para apagar. Mandei para o máximo de pessoas possível para não perder o vídeo”, lembra.
Jarleno recebeu três pontos na cabeça e o caso foi registrado como lesão corporal na 5ª Delegacia de Brasília, onde também foi encaminhado para exame no IML (Instituto Médico Legal).
Outro rapaz de 20 anos também afirma que foi agredido com cassetetes duas vezes na cabeça. “Aconteceu uma briga entre dois meninos e os policiais ao invés de apartarem só eles, vieram para cima de todo mundo e também não deixavam a gente gravar”, conta Igor Micael Dias Gomes, que estava acompanhado pela namorada. Ele conta que recebeu cinco pontos, mas ainda não sabe se vai registrar a ocorrência.
Em uma semana, é o segundo caso de repressão policial em dispersão de bloco carnavalesco. No último dia 23/2, em São Paulo, a Polícia Militar usou balas de borracha e apreendeu instrumentos do bloco Fanfarra Clandestina, na região central.
Outro lado
Em nota, a assessoria de imprensa da PMDF declarou que no bloco “havia uma grande concentração de usuários de drogas causando focos de tumulto” e que, “devido a deficiência na segurança privada do evento, ao seu final, precisou solicitar o desligamento do som”. Nesse momento, diz o texto, um dos policiais foi atingido por uma garrafa de vidro, encaminhado ao Hospital de Base, medicado e liberado.
A assessoria afirma, ainda, que foram recolhidas seis armas brancas e que “houve conflitos na dispersão do público que se mostrou bem agressivo com a intervenção da PMDF”. Questionada sobre a ação dos policiais no vídeo, disse apenas que “qualquer excesso identificado será apurado pela Corregedoria”.
A Ponte procurou o coletivo No Setor, responsável pela organização do bloco, mas não teve retorno.