Com a roupa ensanguentada de Gabriel nas mãos, familiares denunciam que disparo foi dado pelas costas; munição .40, de uso da polícia, foi encontrada no local
Um jovem de 17 anos foi morto durante uma perseguição policial na madrugada desta sexta-feira (1/6), no Lauzane Paulista, periferia da zona norte de São Paulo. Para moradores, a Polícia Militar executou Gabriel Pinheiro Miranda pelas costas enquanto ele tentava fugir. Um segundo adolescente foi detido e encaminhado à Fundação Casa.
Segundo a PM, Gabriel e M., também de 17 anos, estavam em um carro que havia sido furtado na noite anterior. Ao identificar o veículo na avenida Conselheiro Moreira Barros, os dois não obedeceram a ordem dos policiais e tentaram fugir. Eles seguiram por mais duas ruas até baterem em outro automóvel. Neste momento, pessoas que estavam na rua informaram que a polícia já disparava contra os adolescentes. “O carro branco passou aqui muito rápido e a polícia atrás, atirando pra tudo que é lado. Três tiros atingiram a minha parede, perto da janela da casa”, contou uma moradora que não se identificou por medo de represália. Gabriel tomou um tiro nas pernas enquanto corria. Numa viela próxima ao fim da Rua Doutor Gabriel Nicolau, foi acertado nas costas.
A moradora conta que, por ser feriado, muitas pessoas estavam nas calçadas. Ao verem toda esta cena, foram até a rua em que houve o acidente para ver o que havia acontecido, quando foram agredidas e ameaçadas. “A gente tentou ir lá e a polícia não deixou. Jogaram gás de pimenta em todo mundo e até o braço da minha filha eles deixaram marcado. Não deixaram a gente ir ver o que era por nada, nos ameaçaram ainda por cima”, contou. Nem mesmo os familiares de Gabriel puderam reconhecer o corpo naquele momento.
Para a irmã, Vitória Miranda, o suposto tiro nas costas é o que revolta à família: “Foi errado ele ter ido assaltar? Foi. Mas não precisam ter feito isso, ele já estava no chão por conta do primeiro tiro“.
A suposta tentativa policial de omitir o crime não teria terminado por aí. Outra testemunha diz ter ouvido dois policiais conversando entre si sobre como fariam para trocar as balas que estavam no chão, possivelmente para transformar a cena do crime. Nenhuma testemunha afirma ter visto ou ouvido tiros além dos que saíram das armas dos policiais. O outro ocupante do carro tentou fugir para o lado oposto ao de Gabriel, mas foi apreendido e encaminhado ao 72º Distrito Policial da Vila Penteado.
Ao menos seis marcas de tiros são visíveis por todo o trecho que percorreram. Algumas pessoas afirmam ter ouvido cerca de 15 disparos. Em frente ao forte contingente policial no local, a família do jovem estava abraçada ao moletom que Gabriel usava. Na roupa amarela, uma enorme mancha de sangue na parte das costas do casaco.
Outro lado
A Secretaria de Segurança Pública informou, em nota, que o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção À Pessoa) instaurou inquérito e irá apurar o caso. A SSP ainda afirma que M., de 17 anos, foi apreendido e encaminhado à Fundação Casa. Um Inquérito Policial Militar (IMP) também foi instaurado para apurar a conduta dos policiais envolvidos.