Vídeos mostram abordagem violenta ocorrida na noite de domingo (22) contra Vinicius Novais da Silva, que voltava de um restaurante no litoral norte paulista com a namorada. ‘Foi racismo, vieram um monte para cima de mim, foi covardia’, diz o jovem
O cabeleireiro Vinicius Novais da Silva, 23 anos voltava de carro, de um jantar com a namorada Bruna Santiago por volta das 19h da noite no último domingo (22/8) na cidade de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, quando foi parado pelos policiais militares Helder Felipe Pires Matos, Talita Luana de Araujo e Lucas Monteiro dos Santos na rua Doutor Carvalho. A abordagem foi gravada por pessoas que circulavam no local.
Conforme mostram as imagens, Vinícius sofreu um golpe de enforcamento. À Ponte ele afirmou que também foi pisoteado e agredido com tapas e chutes no corpo pelo PM Helder Felipe Pires Matos. Nas gravações é possível ouvir gritos das pessoas ao redor revoltadas dizendo: “Policiais despreparados”, “solta ele!” e “vai matar o moleque!”. Vinicius por sua vez chama os policiais de covardes.
Tudo começou, segundo Vinicius, quando a policial Talita o avistou no carro e saiu correndo para o meio da rua Doutor Carvalho gritando para que ele parasse o carro, pois o cabeleireiro estaria em alta velocidade. “Ela usou palavreado de baixo calão comigo, dizendo: ‘Desce do carro, caralho’. Eu pedi calma, para estacionar o carro, desliguei o carro e a minha namorada desceu, nesse momento um dos policiais perguntou da minha carteira de motorista e eu falei que não tinha, mas minha namorada é habilitada. O carro está em dia, é quitado, não devo nada e não estava andando rápido, aí a policial já veio tirando o meu boné e já mandou eu ir para atrás do carro”, diz.
Segundo Vinicius, quando ele se posicionou atrás do veículo, os policiais falaram que iriam apreender o carro e levá-lo preso por desacato. “Eu liguei para a advogada, perguntei se o que eles estavam fazendo era correto. Se o carro estava em dia, tudo certinho, não tinha motivo de eles aprenderem o carro. Foi quando eles se alteraram, eu também me alterei, pediram para eu desligar o telefone, dei o celular para a minha namorada e mandaram eu colocar a mão para trás. Eu disse que não ia colocar, foi quando ele me deu uma gravata”, relata.
Em seguida, Vinicius foi colocado em um camburão e levado à Delegacia de Polícia de Ilhabela. “Na ida me deram tapas e chutes, me levaram para o Pronto Socorro da Santa Casa de Ilhabela. Um dos policiais que eu mordi, fez o corpo de delito. No hospital não fizeram corpo de delito em mim, ou exame de sangue. Colocaram um esparadrapo no meu nariz e mandaram me levar para a delegacia.”
Na visão dele, a abordagem foi motivada por racismo. “Teve até um policial que falou: ‘Esse moleque está levando a patricinha para andar de carro’. Foi racismo, por eu ser preto, na hora que eu passei com o carro a policial já passou falando para eu parar o carro, nem perguntou meu nome, foi ignorante comigo. Perguntaram o que eu faço da vida pelo carro que eu estava.”
Segundo Vinicius, os policiais não fizeram nenhum teste de bafômetro para conferir se ele estava ou não alcoolizado, ademais, no hospital não foi feito o exame de sangue também com a mesma finalidade.
Ainda assim, ele foi indiciado pelos crimes de resistência, que pode gerar detenção de dois meses a dois anos, segundo o artigo 329 do Código Penal; por lesão corporal (artigo 129), cuja pena pode ser detenção de três meses a um ano; e embriaguez ao volante, com pena de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor, do artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro.
Para não ser preso em flagrante ele teve que pagar uma fiança de R$10 mil, conforme aponta o boletim de ocorrência assinado pelo delegado Jairo Luis Pinto Pontes. No documento, o policial Lucas Monteiro dos Santos diz que “através de solicitação de populares”, os PMs tiveram conhecimento que uma pessoa estaria conduzindo um veículo automotor Chevrolet / Camaro de cor amarela em alta velocidade.
De acordo com o BO, os policiais avistaram o veículo na rua Dr. Carvalho, onde procederam a abordagem. No momento da abordagem Vinicius “apresentava agressividade, fala pastosa, andar cambaleante, sinal visível de embriaguez”, dizem os policiais, que também relataram que o cabeleireiro não obedeceu às ordens de comando. “Questionado se era habilitado respondeu negativamente (não possuir CNH). Apresentava forte odor etílico, descontrole emocional. Incitando os transeuntes contra o corpo policial.”
Ainda segundo o depoimento do PM Lucas, no momento da abordagem Vinicius “agrediu os policiais militares Helder, com uma mordida na perna esquerda e a policial Talita, com um arranhão na mão esquerda”.
Consta ainda uma testemunha no Boletim de Ocorrência, que teria acusado Vinicius aos policiais. A testemunha disse que estava pedalando e na reta da praia do Engenho d’Água, viu o carro Camaro amarelo passando “em alta velocidade, pelo aplicativo, constava sua pedalada em 45 Km/h”. Naquela noite, o homem teria continuado pedalando até um bairro chamado Vila, ele então, avistou os policiais militares e informou o ocorrido.
Ainda segundo o BO, Vinicius “já saiu do carro alterado, dizendo que iria chamar seu advogado, em voz alta e desrespeitosa com o corpo policial”. O jovem ainda teria também tentado “jogar os populares contra o corpo policial a todo momento”, segundo o documento.
Vinicius contesta a versão dos policiais. À Ponte ele disse que não foi requisitado o teste de bafômetro, que não estava alcoolizado e que dirigia dentro da velocidade permitida. Na visão dele, a ação dos policiais foi covarde. “Eu tenho 23 anos, não faço nada de errado, sou cabeleireiro e tenho um lava rápido. Veio um monte de gente para cima de mim, foi covardia, jogaram spray de pimenta na minha namorada, empurraram ela. As pessoas que estavam filmando. Minha mão está inchada e pisaram em mim”.
Em nota a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo disse que os Policiais militares em patrulhamento foram acionados na noite de domingo (22), por ciclista sobre o condutor de um Camaro que trafegava em alta velocidade em Ilhabela. “Os PMs fizeram a abordagem ao veículo e constataram que o motorista, de 23, não tinha habilitação e estava embriagado. O autor resistiu, mordeu um policial e arranhou outra pm. Ele foi encaminhado ao Pronto Socorro e a embriaguez constatada em exame médico. O caso foi registrado como embriaguez ao volante, resistência e lesão corporal na Delegacia da Ilhabela e o motorista preso flagrante. As investigações seguem para apurar todas as circunstâncias dos fatos.”